Depois de vilão em "Italian Job", esquizofrénico em "Fight Club", skinead em "American History X" e sóciopata em "Primal Fear", Edward Norton dá corpo a não uma, mas, sim, duas personagens, desempenhando o papel de dois irmãos gémeos Bill e Brady.
Mais uma vez, como nos habituou, a sua actuação é refulgente. É impossível não gostar da sua versatilidade muito incomum actualmente. Em "Leaves of Grass" há uma mescla de humor e drama, que resulta num escárnio saudável da vida de uma família bem invulgar e deteriorada pelas diferenças. O filme apresenta também um elenco bem escolhido – Susan Sarandon e Keri Russel fazem as delícias do público em papéis bem encantadores.
Ainda que o filme tenha um bom cast, assim como cenários naturais bastante belos, falha em alguns aspectos. A história não é má de todo, mas um bocado sem sal, digamos que débil. Falta algo. Sente-se uma certa confusão ou estranheza provocada, talvez, pela ausência de um clímax verdadeiramente digno da personagem de Norton. Ou não seria ele o mais adaptado dos actores a enredos com final twist - os casos mais gritantes são "Fight Club" e "Primal Fear".
Embora seja um filme agradável de se ver, não é genial, nem muito menos um filme muito marcante como esperaria. Também não é de desprezar. Mas, sim, de relembrar algumas actuações já mencionadas como eficazes e salutares. De olhar para algumas quotes. Penso que quando chegar a Portugal será uma película que dividirá críticos e públicos. Entre o exangue e o sadio. É ainda apontado como indie por alguns, embora eu ache que esse termo só se aplica a este filme se visto num sentido muito lato e relativo a orçamentos apenas. Contudo a produção é de cariz independente, tendo sido exibido pela primeira vez no Festival de Filmes de Toronto, que já aí suscitou reacções muito controversas.
Há também pontos muitíssimo positivos além dos já mencionados. A personagem mais rural desempenhada por Norton confere grande graça ao filme. Assim como a apresentação do mundo das drogas de forma tão soft e espontaneamente cómica e as peripécias subjacentes.
Escrito e realizado por Tim Blake Nelson, também realizador de "O Brother, Where Art Thou?", o filme tenta passar a mensagem de como o choque entre pessoas completamente diferentes e brilhantes (à sua maneira ou no seu contexto) pode ser benéfico ainda que não seja linearmente bom. A metragem mostra também alguma falta de profundidade psicológica no que toca às personagens. Tirando o duo de irmãos, apesar de "graciosas", as restantes personagens não revelam os seus sentimentos e história anterior ao momento em que surgem na narrativa. Caem de pára-quedas na história. Depois ficam um pouco à margem, e tudo se desenrola à volta do intuito de um dos gémeos - Brady. As outras personagens aparecem mesmo como espécie de fait-divers, ou seja sem realmente terem um papel decisivo no filme além do 'decorativo'.
"Leaves of Grass" poderá se tornar num pequeno guilty-pleasure a meu ver, nunca num filme de culto ou coisa que se pareça, infelizmente, para Tim Blake Nelson não passará de mais um "Hulk" na sua carreira!