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Pode encontrar nos seguintes links as Críticas referentes ao ano de 2011 e 2012.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Crítica: "You Will Meet a Tall Dark Stranger"


Acho incrível como alguns filmes sofrem de uma falta de promoção incrível. Enquanto se vê mil promos e teasers e tudo o mais de filmes como "Tron"(e com isto não quero dizer que tenho algo contra o filme) filmes como este -"You Will Meet a Tall Dark Stranger"- parecem entrar nas salas do cinema totalmente despercebidos. Ou eu ando extremamente distraída e com um azar incrível de não me deparar com nada sobre o mesmo, nem em sites, nem blogues, nem em nada... Esta chata introdução serve para enfatizar o facto de ontem ter ido ver este filme 'porque calhou'. Na realidade não fazia ideia de que estava em cartaz ou iria estar, não tinha visto nada em concreto sobre o mesmo antes, mas mesmo assim resolvi ir vê-lo.

"You Will Meet a Tall Dark Stranger" tem todos os traços típicos dos outros filmes de Woody Allen., que podem ser facilmente identificados por aqueles que já conhecem o seu trabalho. Um narrador mais ou menos interventivo, personagens bem problemáticas, mas ao mesmo tempo realistas, e um tema (s) concreto(s) que pode até ser muito banal - o medo de se ficar sozinho , a conformidade e a procura da pessoa perfeita-, porém o realizador aborda-o(s) de um novo prisma. É isso que acontece neste filme também.

Os cenários de Inglaterra são inconfundíveis. E agradáveis à vista. Os carismáticos táxis e o sol soalheiro que acompanham as cenas são também pontos marcantes do filme. O deambular das personagens, geralmente, apenas entre dois espaços também é interessante de se ver.Por outro lado, nem tudo é 'arte' e pensado para agradar o público. Do início ao fim, o espectador mais atento, percebe uma evasão e abuso descomunal de publicidade a marcas bem conhecidas espalhadas cena a cena - são algumas delas, que me ficaram na memória, a cerveja Corona, o refigerante Pepsi e a Nike. Acho algo um bocado desrespeitoso porque nem se fica por estar tacitamente incluído no filme, mas, enfim.
Algumas das caras escolhidas para integrarem o cast são bem conhecidas. Naomi Watts, Antonio Banderas, Gemma Jones, Pauline Collins, Anthony Hopkins, Josh Brolin, Freida Pinto preenchem o ecrã. No entanto, nunca esperei ver a Naomi Watts num filme de Allen, desculpem os estereotipos, mas não estava mesmo...Não que esteja mal de todo, mas não me suscita especial empatia. Pelo contrário, Pauline Collins é bem mais eficaz, assim como Hopkins, que também não estava a espera de ver num filme de Allen, mas que consegue ocupar o seu lugar à mesma, representando um senior e os seus problemas. Freida Pinto de Slumdog Billionar também dá o ar das suas graças, hum, ainda estou reticente quanto a esta actriz. A ideia seria parecer franca e ingénua, mas ao vê-la agarrada a Josh Brolin é dificil preservar esse pensamento.
As personagens têm histórias bem interessantes, as peripécias vividas individualmente por cada uma delas são também deliciosas. Isto tudo é muito positivo, a primeira parte do filme corre muito bem, contudo, na segunda parte começa a descambar. Quer dizer, também é um ponto característico de alguns filmes do Allen, que alguns cinéfilos até apreciam, todavia acho que neste filme não resultou. É verdade que um filme não tem de ter um climax obrigatório e bem salientado, e um fim objectivo e bem defenido para todas as personagens, o realizador costuma nem primar por isso, mas, mesmo assim, neste último filme senti que mais do que pontas soltas, nem chegamos a conhecer muito bem o profundo de algumas personagens ou de uma exactamente. Mas a verdade é que este cinema 'realista' de Woody Allen pode justifcar-se com o facto de que a vida não pára assim que desligamos o botão da câmara. Talvez seja essa a ideia que o realizador quer reforçar ainda mais e mais...só que não me caiu tão bem como em Whatever works ou vicky Cristina Barcelona...




sábado, 1 de janeiro de 2011

“Machete don’t text, Machete improvise!





Rodriguez resuscita os B movies com "Machete"

Título: "Machete"

Duração: 105 min

Género:Acção|Comédia| Crime

Realizador: Robert Rodriguez

Depois do Grindhouse“Death Proof” e “Planet Terror”-, desta vez, sem o auxílio de Quentin Tarantino, Rodriguez regressa com mais um exploitation e ressuscita os filmes de série b com Machete”. Machete coloca o “M” em exploitation. Chegamos assim aquilo a que se chama de Mexploitation, impossivél sem o elemento masculino mexicano, Danny Trejo.

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A ideia para o filme surgiu de um fake trailer, um dos muitos criados a par do Grindhouse, que foi visto por Rodriguez como uma excelente ideia de pôr Danny Trejo a fazer, finalmente, um papel principal. O mexicano é um dos mais conhecidos em papéis secundários de pouca profundidade, mas na obra de Rodriguez ele alcança, muito bem, o papel do herói imbatível, não há tiro nem mulher que o pare!

A personagem de Danny Trejo (Machete Cortez) tem um papel fundamental para o mote central da película. O realizador conseguiu incorporar uma mensagem bastante real no filme – a de que nos EUA a imigração é vista como um grande problema e os estrangeiros são maltratados. Apesar do típico escárnio patente neste modelo de películas, o filme consegue ser um verdadeiro mash up de acção, comédia e até um pouco de drama levado ao exagero. Todo o filme é uma hipérbole do inicio ao fim. Assistimos à reunião de alguns dos actores mais badalados nos filmes de acção. Steven Seagal é o exemplo mais flagrante, pois o público, até este filme, estava habituado a o ver como o herói, aquele que fazia justiça e no fim triunfava sempre. Todavia, em “Machete”, a sua personagem é completamente o oposto; admito que esse foi um dos motivos que me levou a querer ver o filme. Robert De Niro é outro que tem um papel pequeno, mas bastante bom, o que é uma pena porque desde os blockbuters “Meet the Fockers” que este não faz nada de jeito.

Michelle Rodriguez que, mais uma vez, tal como em “Lost”, mostra que consegue fazer papeis duros sem grandes problemas. Jessica Alba e Lindsay Lohan são também algumas das mulheres que dão o ar de suas graças neste filme. No entanto, apesar das críticas positivas que foram tecidas pelo cast a Lindsay, pessoalmente, achei que o registo interpretado pela mesma no filme não foi diferente dos que tem nos seus habituais blockbusters. Achei que a única coisa que conseguiu interpretar bem foi o momento em que se estava a drogar, sabe-se lá porquê não é?!... Infelizmente, penso que a sua presença era dispensável.

Os momentos propositados de falhas são também bem divertidos. Muito característicos dos filmes de série B, estes são realizados de forma reflectida e não descuidada e aleatória. Há uma linha de pensamento ao longo do filme. Além de um argumento muito jocoso. “Machete don’t text, Manchete improvise”, é um dos exemplos.

“Machete” surpreendeu-me pela positiva. Estava à espera de uma cópia “carrascona” dos trabalhos de Tarantino, como Rodriguez, a meu ver, tentou fazer já algumas vezes. Contudo, penso que foi com este filme que conseguiu enfim alcançar o seu registo. Adoptou uma forma de aliar o argumento a um visual de qualidade, com um pouco gore à mistura e cenas disparatadas. Vemos assim um abuso da estética setecentista, dos clichés dos filmes de série b, da superviolência, acção e sangue, muito sangue…passeando, finalmente, pelo mundo trash.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

“The Neverending Social Network”





Título: "The Social Network"

Duração
: 121 min

Género: Biografia| Drama|

Realizador: David Fincher

Sinopse: Um aluno sobredotado decide, com a ajuda do seu melhor amigo, criar um novo conceito de rede social. A partir daí não olha a meios para desenvolver aquela que se virá a revelar a mais popular rede social – o Facebook.

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Quando pensamos em David Fincher, considero que é difícil não se sentir uma deliciosa sensação psíquica, pois, automaticamente, nos recordamos de filmes como Fight Club e Se7en. Filmes esses que serviram de pilares para a construção de uma invejada reputação enquanto realizador. Com “The Social Network”, a história conseguiu repetir-se. Mas não totalmente. Não da mesma forma. Não de modo tão completo. Em ambos os filmes, inicialmente referidos, existem magníficos twists finais que nos deixam de boca aberta. Digamos que no novo filme de Fincher esse momento não acontece. Ansiamos e ansiamos. Do inicio até ao último minuto para o seu final e…ele não acontece. Esperamos que nos tenha presenteado com um final secreto, tal como em alguns blockbusters, mas isso não acontece. Esperamos por uma mensagem subliminar, porém isso nunca acontece. Esperamos pelo regresso do antigo Fincher, aquele que arrebatadoramente nos surpreendia e nos dava um murro no estômago com uma narrativa brilhante, mas isso, desde The Curious Case of Benjamin Button” (2008), que já não acontece! Apesar da mudança de estratégia do realizador, neste filme baseado no Facebook, deparámo-nos com um argumento brilhante, soberbo, empolgante, que nos deixa colados ao ecrã, na tentativa de conseguir acompanhar todo um ritmo fulminante e hiperactivo. É como correr uma maratona que não parece ter fim à vista e, quando o vemos, a paragem é tão brusca que nos sentimos ingratos pelo desafio que nunca conseguimos ganhar! Mais uma vez, à semelhança de “Fight Club”, Fincher consegue representar toda uma sociedade. Da sociedade consumista passa para a sociedade da informação. Onde basta um clique para se criar algo, ser alguém, no meio de milhões de pessoas.

O filme foi adaptado a partir da obra de Ben Mezrich, que foi baseado na história real de Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, contada pelo ponto de vista do último. Portanto, é possível que seja demasiado tendenciosa, que Zuckerberg não seja na realidade um nerd tão calculista e ingrato, como é passado na película. As personagens são incríveis. Há uma verdadeira percepção de que estas são verdadeiras, Jesse Eisenberg está óptimo no papel. Desde "Zombieland" que o actor não para de surpreender. Digo agora aos críticos: Qual Michael Cera, qual quê?! Mas Andrew Garfield (“Dr.Parnasus”) brilha também. Este deixa-nos a ansiar ser o seu melhor amigo. Até o Timberlake (“Alphadog”) faz um papel satisfatório (estereótipos à parte). O cast é admirável; tão jovens e tão eficazes. (“Adventureland”)

A montagem paralela dá uma cadência excepcional à metragem. Para não falar da excelente banda sonora, cujo responsável Trent Reznor já se deve sentir orgulhoso por tamanho feito!

No que perde em não ter um clímax, ganha ao ter estes elementos tão extraordinariamente bem pensados! Afinal a marca de Fincher ainda se encontra lá. O filme acaba. E penso que falta algo. Penso para mim: não estou satisfeita, quero mais, por favor! Sim, o tio Fincher habituou-nos mal. Talvez não se deva encarar o filme como um falhanço do realizador, talvez se deva culpar apenas o excesso de expectativas criadas, talvez se deva olhar de frente para a película e encarar que é excelente enquanto biopic e que esta cumpriu a sua missão – a de dar a conhecer a origem do FB e o drama real e inacabado de Mark Zuckerberg.

domingo, 24 de outubro de 2010

Leaves of Grass

Leaves of Grass, Tim Blake Nelson, 105 minutos, Comédia, Drama, Estados Unidos, 2009

Depois de vilão em "Italian Job", esquizofrénico em "Fight Club", skinead em "American History X" e sóciopata em "Primal Fear", Edward Norton dá corpo a não uma, mas, sim, duas personagens, desempenhando o papel de dois irmãos gémeos Bill e Brady.

Mais uma vez, como nos habituou, a sua actuação é refulgente. É impossível não gostar da sua versatilidade muito incomum actualmente. Em "Leaves of Grass" há uma mescla de humor e drama, que resulta num escárnio saudável da vida de uma família bem invulgar e deteriorada pelas diferenças. O filme apresenta também um elenco bem escolhido – Susan Sarandon e Keri Russel fazem as delícias do público em papéis bem encantadores.

Ainda que o filme tenha um bom cast, assim como cenários naturais bastante belos, falha em alguns aspectos. A história não é má de todo, mas um bocado sem sal, digamos que débil. Falta algo. Sente-se uma certa confusão ou estranheza provocada, talvez, pela ausência de um clímax verdadeiramente digno da personagem de Norton. Ou não seria ele o mais adaptado dos actores a enredos com final twist - os casos mais gritantes são "Fight Club" e "Primal Fear".

Embora seja um filme agradável de se ver, não é genial, nem muito menos um filme muito marcante como esperaria. Também não é de desprezar. Mas, sim, de relembrar algumas actuações já mencionadas como eficazes e salutares. De olhar para algumas quotes. Penso que quando chegar a Portugal será uma película que dividirá críticos e públicos. Entre o exangue e o sadio. É ainda apontado como indie por alguns, embora eu ache que esse termo só se aplica a este filme se visto num sentido muito lato e relativo a orçamentos apenas. Contudo a produção é de cariz independente, tendo sido exibido pela primeira vez no Festival de Filmes de Toronto, que já aí suscitou reacções muito controversas.

Há também pontos muitíssimo positivos além dos já mencionados. A personagem mais rural desempenhada por Norton confere grande graça ao filme. Assim como a apresentação do mundo das drogas de forma tão soft e espontaneamente cómica e as peripécias subjacentes.

Escrito e realizado por Tim Blake Nelson, também realizador de "O Brother, Where Art Thou?", o filme tenta passar a mensagem de como o choque entre pessoas completamente diferentes e brilhantes (à sua maneira ou no seu contexto) pode ser benéfico ainda que não seja linearmente bom. A metragem mostra também alguma falta de profundidade psicológica no que toca às personagens. Tirando o duo de irmãos, apesar de "graciosas", as restantes personagens não revelam os seus sentimentos e história anterior ao momento em que surgem na narrativa. Caem de pára-quedas na história. Depois ficam um pouco à margem, e tudo se desenrola à volta do intuito de um dos gémeos - Brady. As outras personagens aparecem mesmo como espécie de fait-divers, ou seja sem realmente terem um papel decisivo no filme além do 'decorativo'.

"Leaves of Grass" poderá se tornar num pequeno guilty-pleasure a meu ver, nunca num filme de culto ou coisa que se pareça, infelizmente, para Tim Blake Nelson não passará de mais um "Hulk" na sua carreira!

Black Dynamit

Black Dynamite, Scott Sanders, 84 min, Estados Unidos, 2010

Imaginem Austin Powers, mais o ambiente dos anos 70, mais mil e um efeitos especiais, muita violência, sexo, imensas acções hiperbólicas e referências à linguagem da blaxploitation. Já imaginaram? Pronto. Então estão perante aquilo que é “Black Dynamite”.

Este filme aspira trazer ao público uma mistura de movimentos cinematográficos. Há nuances daquilo que entendemos por b-movie. Desde o genérico que aparece só depois de uma cena jovial, assim como um certo deslocamento temporal, as próprias personagens, o seu figurino muito estranho, as deixas extremamente cliché e patetas, as acções non-sense e sensação, quase propositada, de pouco cuidado na montagem. Para o público que já tenha visto filmes do género, denota-se nos primeiros minutos a tentativa flagrante de se tentar ridicularizar, no bom sentido, a realização que era feita na altura em que este tipo de filmes saíram – como as explosões muito adulteradas, erros descarados de continuidade, substituição de personagens por outras e mudança da posição de forma inexplicável da personagem.

A nível de cast é difícil avaliar se a prestação é boa ou não. O facto de o filme tentar fazer de propósito uma crítica aos exploitations, filmes de série b e movimentos cinematográficos dos anos 70, faz com que seja difícil apreciar o desempenho dos actores. Michael Jai White (Black Dynamite) é um exemplo. Podemos afirmar que desempenha com eficácia o que lhe parece ser proposto, mas a realidade é que a linha entre o ridículo e a alusão ao estilo dos movimentos é muito ténue.

Contudo, é uma metragem que se vê bem. Tem um grau muito elevado de comicidade, mas que se analisarmos bem percebemos que este exagero tem um propósito. Propósito esse de relembrar um estilo já esquecido, um propósito de fazer um humor diferente, um propósito de tentar trazer o espírito da era da disco – o sexo, o machismo, as roupas e os penteados alucinantes. Todavia, este intuito revela-se também negativo. Para quem não tem conhecimentos da história e movimentos cinematográficos, é difícil entender qual o objectivo do filme. Tal como aconteceu na altura em que o Grindhouse, “Death Proof”, passou nos cinemas português, pois, no fim da sessão, várias foram as pessoas que se queixaram da má qualidade do filme. Deste modo, percebemos com este exemplo que, sem ser contextualizado, o filme pode ser encarado como um desperdício de película.

“Black Dynamite” apresenta-se como uma verdadeira paródia do inicio ao fim, o que leva a que a premissa inicial passe para segundo plano e que o foco esteja apontado a todas as peripécias do protagonista durante todo o filme.

Jackie Brown

Jackie Brown, Quentin Tarantino, 154 min, Drama, Estados Unidos, 1997

Jackie Brown" (JB) é um filme que surgiu, infelizmente, numa altura um pouco ingrata. As obras que o antecederam -"Pulp Fiction" e "Reservoir Dogs"- elevaram o realizador a um patamar mais elevado e exigente. Devido às expectativas criadas, "JB" foi menosprezado, pelo público, por não alcançar ou superar os filmes antecedentes de Tarantino. Tornando-se, porém, mais tarde num filme de culto por pertencer mais à filmografia do realizador do que propriamente pelo seu valor individual enquanto longa-metragem.

A meu ver esta película não é nenhuma obra-prima. Claramente. Mas também não é de longe um mau filme. É, sim, distinto do que o realizador havia feito até a 1997. É um filme mais maduro; onde Tarantino mostra o seu consolidar enquanto cineasta. Sendo assim foca-se mais nas personagens e nos seus problemas como pessoas – exemplo da personagem principal, Jackie Brown (Pam Grier), e o medo de envelhecer, que é um tema tratado implicitamente no filme.

O recurso a movimentos como o blaxploitation* está presente. Assim o também realizador de "Pulp Fiction" alia este conceito ao seu filme, usando como protagonista Pam Grier e antagonista Samuel L. Jackson, ambos de origem negra. O que exalta o teor do filme como posterior película de culto.

Relativamente aos actores, a sua prestação é bastante boa no geral. A de Samuel L. Jackson é deliciosa, hilariante, incorporando neste filme uma das personagens mais alienadas que já fez desde "Pulp Fiction" (1994). Robert De Niro ( "Taxi Driver"), embora tenha um papel pequeno, mostra-se, mesmo assim, eficiente. Quando vemos "Jackie Brown" dá uma certa saudade dos longos tempos áureos destes dois actores que foram levados pela maré comercial. Por fim, Robert Forster ("Mulholland Drive") - que foi nomeado para o Óscar de melhor actor secundário - e Pam Grier ("Mars Attacks!") têm papéis bastante interessantes, que desempenham com mestria.

O guião está baseado na novela "Rum Punch" de Elmore Leonard, este foi reescrito por Quentin Tarantino, tendo assim várias alterações tanto nas personagens como no rumo da história. Sente-se assim a presença do realizador cena a cena. Desde o inicio, que é muito próprio dos seus outros filmes, pois somos introduzidos pela protagonista filmada de ângulo lateral dando a ideia de que nos temos de focar nela e não no que a rodeia. Os planos próximos/muito grandes planos das personagens também são constantes e característicos. Mais ainda é o 'plano da mala', que aparece em todos os filmes do realizador. A narração não linear é mais um dos traços dos filmes de QT; com diálogos memoráveis e uma importante dose de violência e sangue sublimados esteticamente e atenuados por um toque humorístico único (apesar de em "JB" haver menos cenas do que em "Reservoir Dogs" e demais filmes). Sinais emblemáticos do cinema independente que ainda hoje abre portas a muitos jovens cineastas. Outras marcas são evidentes; o fetiche pelos pés femininos, a protagonista ser uma mulher - tal como QT já nos habituou em "Kill Bill" com Uma Turman e "Death Proof" com Rose McGowan e as restantes actrizes, por exemplo. A referência a filmes de série B também está presente, começando logo pelos títulos, assim como alguns planos, falas, mortes e o tipo de personagens/ história. A soundtrack é outro dos pontos a aplaudir. Os filmes do realizador têm felizmente a tradição de nos trazer aos ouvidos bons temas que acompanham o filme, conferindo-lhe ritmo a toda a narrativa e graça, além de um agradável bem-estar.

Apesar de estar ciente que os diálogos longos são uma marca já conhecida dos filmes de Quentin e embora sejam brilhantes, o facto de "JB" não ter tanta acção faz com que o público se aborreça. Existem ainda algumas falhas de racord, principalmente a nível cronológico. Exemplo disso é a cena em que se vê o calendário na cozinha de Jackie e este é de 1997 e não de 95, ano da história.

Há quem o reprove moralmente, mas é impossível negar a talento de Tarantino. Talento esse que cria arte que surge da combinação esplêndida daquilo que de mais real há - a violência verbal e visual (gore), a nudez e sexo, o álcool e drogas, que se juntam harmoniosamente. Dando, então, origem a algo antagónico e primoroso chamado 7ª Arte.

*Blaxplotation: Estes tipos de filmes eram protagonizados e realizados por pessoas negras e tinham como público-alvo, sobretudo, os negros norte-americanos