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domingo, 24 de outubro de 2010

Jackie Brown

Jackie Brown, Quentin Tarantino, 154 min, Drama, Estados Unidos, 1997

Jackie Brown" (JB) é um filme que surgiu, infelizmente, numa altura um pouco ingrata. As obras que o antecederam -"Pulp Fiction" e "Reservoir Dogs"- elevaram o realizador a um patamar mais elevado e exigente. Devido às expectativas criadas, "JB" foi menosprezado, pelo público, por não alcançar ou superar os filmes antecedentes de Tarantino. Tornando-se, porém, mais tarde num filme de culto por pertencer mais à filmografia do realizador do que propriamente pelo seu valor individual enquanto longa-metragem.

A meu ver esta película não é nenhuma obra-prima. Claramente. Mas também não é de longe um mau filme. É, sim, distinto do que o realizador havia feito até a 1997. É um filme mais maduro; onde Tarantino mostra o seu consolidar enquanto cineasta. Sendo assim foca-se mais nas personagens e nos seus problemas como pessoas – exemplo da personagem principal, Jackie Brown (Pam Grier), e o medo de envelhecer, que é um tema tratado implicitamente no filme.

O recurso a movimentos como o blaxploitation* está presente. Assim o também realizador de "Pulp Fiction" alia este conceito ao seu filme, usando como protagonista Pam Grier e antagonista Samuel L. Jackson, ambos de origem negra. O que exalta o teor do filme como posterior película de culto.

Relativamente aos actores, a sua prestação é bastante boa no geral. A de Samuel L. Jackson é deliciosa, hilariante, incorporando neste filme uma das personagens mais alienadas que já fez desde "Pulp Fiction" (1994). Robert De Niro ( "Taxi Driver"), embora tenha um papel pequeno, mostra-se, mesmo assim, eficiente. Quando vemos "Jackie Brown" dá uma certa saudade dos longos tempos áureos destes dois actores que foram levados pela maré comercial. Por fim, Robert Forster ("Mulholland Drive") - que foi nomeado para o Óscar de melhor actor secundário - e Pam Grier ("Mars Attacks!") têm papéis bastante interessantes, que desempenham com mestria.

O guião está baseado na novela "Rum Punch" de Elmore Leonard, este foi reescrito por Quentin Tarantino, tendo assim várias alterações tanto nas personagens como no rumo da história. Sente-se assim a presença do realizador cena a cena. Desde o inicio, que é muito próprio dos seus outros filmes, pois somos introduzidos pela protagonista filmada de ângulo lateral dando a ideia de que nos temos de focar nela e não no que a rodeia. Os planos próximos/muito grandes planos das personagens também são constantes e característicos. Mais ainda é o 'plano da mala', que aparece em todos os filmes do realizador. A narração não linear é mais um dos traços dos filmes de QT; com diálogos memoráveis e uma importante dose de violência e sangue sublimados esteticamente e atenuados por um toque humorístico único (apesar de em "JB" haver menos cenas do que em "Reservoir Dogs" e demais filmes). Sinais emblemáticos do cinema independente que ainda hoje abre portas a muitos jovens cineastas. Outras marcas são evidentes; o fetiche pelos pés femininos, a protagonista ser uma mulher - tal como QT já nos habituou em "Kill Bill" com Uma Turman e "Death Proof" com Rose McGowan e as restantes actrizes, por exemplo. A referência a filmes de série B também está presente, começando logo pelos títulos, assim como alguns planos, falas, mortes e o tipo de personagens/ história. A soundtrack é outro dos pontos a aplaudir. Os filmes do realizador têm felizmente a tradição de nos trazer aos ouvidos bons temas que acompanham o filme, conferindo-lhe ritmo a toda a narrativa e graça, além de um agradável bem-estar.

Apesar de estar ciente que os diálogos longos são uma marca já conhecida dos filmes de Quentin e embora sejam brilhantes, o facto de "JB" não ter tanta acção faz com que o público se aborreça. Existem ainda algumas falhas de racord, principalmente a nível cronológico. Exemplo disso é a cena em que se vê o calendário na cozinha de Jackie e este é de 1997 e não de 95, ano da história.

Há quem o reprove moralmente, mas é impossível negar a talento de Tarantino. Talento esse que cria arte que surge da combinação esplêndida daquilo que de mais real há - a violência verbal e visual (gore), a nudez e sexo, o álcool e drogas, que se juntam harmoniosamente. Dando, então, origem a algo antagónico e primoroso chamado 7ª Arte.

*Blaxplotation: Estes tipos de filmes eram protagonizados e realizados por pessoas negras e tinham como público-alvo, sobretudo, os negros norte-americanos


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