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domingo, 22 de agosto de 2010

Crítica:Accordind to Greta


Drama, Romance e um pouco de humor negro é tudo o que podemos ver ao assistir 'According to Greta', um filme que retrata uma jovem problemática.
Hillary Duff é Greta, uma rapariga que é enviada, pela sua mãe, para a casa dos avós no Verão. Visto assim seria bastante simples e algo quase comum, o problema é que esta foi mandada para New Jersey porque a sua instabilidade estava a ameaçar o novo casamento da sua mãe. A irreverência da adolescente de 16 anos põe todos em alvoroço, mas isso está prestes a mudar...
Não querendo ser 'spoiler', paro por aqui no que toca a descrever a história do filme.
A história tem duas fases: uma em que o argumento parece um autêntico plágio de 'Georgia Rule' e outro em que algumas revelações mudam um pouco o cerne da história.
O suicídio é parece-me ser tratado de um modo pouco sério. Às vezes, dá-se grande ênfase ao mesmo, mas, de outras vezes, é um pouco visto como o fruto de um drama caprichoso juvenil.
Não sei se o orçamento foi muito reduzido, todavia, a poucos minutos do final acontecem mil e uma coisas, como se fossem resumidas ao máximo. Perdem-se muitas cenas que deveriam ter sido desenvolvidas e exploradas; o sentido da história perde-se... O desfecho do filme,basicamente, é feito às três pancadas e põe assim fim à esperança de que fosse um bom filme para ser um filme de domingo à tarde. Contudo é agradável de se ver, é soft e, com certeza, que já muitas pessoas passaram por alguns dos dramas de 'Greta' e se irão identificar...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Up...Altamente?

UP-Altamente” é um dos mais recentes filmes da Pixar que mistura ficção e realidade. Através de uma história de amor, aventura, nostalgia e utopia, a película animada expõe um tema bem real e intemporal – a dos sonhos perdidos no tempo.

up_altamente_cinema.sapo.pt.jpg

Cena da película "UP! - Altamente". Foto: cinema.sapo.pt

Carl Fredricksen é a personagem principal. A sua vida é o fio condutor para o desenvolvimento de toda a história, que retrata o quão breve pode parecer uma vida repleta de felicidade, de sonhos e de companheirismo. Contudo, tal como o velho ditado diz: “O que é bom passa depressa.” E foi isso mesmo que aconteceu a Carl. A vida da personagem passa vários estádios. O filme inicia-se com a figura de Carl em criança. É em pequeno que cedo encontra a pessoa que, mais tarde, se revelará a “companheira para toda a vida”. Brincam, sorriem, crescem e apaixonam-se. Já adultos tentam alcançar alguns dos seus sonhos de infância; a sua casa é um exemplo. No entanto, outros sonhos são deixados para trás… O sonho laboral de infância é substituído pela profissão de vendedor de balões. E passam-se assim vários anos.

Um dia o vendedor de balões reformado decide concretizar, em conjunto com a sua mulher, o seu maior desejo, mas… a sua amada morre e este fica sozinho. A vida em casal dá lugar a uma vida de solidão. Para não me arriscar a ser ‘spoiler’, fico-me por aqui no que toca à descrição do argumento do filme de Pete Docter .

Apesar de ser um filme de animação e, por isso, a maioria das pessoas achar que é dirigido apenas às crianças, os assuntos que são tratado em “UP” são bastante sérios. O medo da solidão, a velhice, a mudança, os sonhos deixados para trás, assim como a morte, são alguns deles. Este é um filme de formato para o público mais novo – de animação - mas que possui um argumento extremamente adulto. Talvez o autor tenha pensado também nos pais quando escreveu o argumento, ou, pura e simplesmente, tenha achado importante dar a conhecer o mundo tal como ele é.

Também as personagens têm um papel para além do vulgar. Elas actuam um pouco como personagens-tipo, que dão corpo à “velhice”- Carl - e “infância”- Russel.

O filme mexe com o público, que pode rir, chorar e pensar enquanto assiste ao filme, pois este permite que o façamos. A velhice é algo temido, contudo penso que os criadores desta película, que também são os de “Nemo” e “Monsters Inc.”, também querem dar a conhecer o outro lado da moeda. Deixar ver para lá do que nos assusta, ver que pudemos aproveitar a vida mesmo quando já parece tarde demais.

A nível estético não há muito para dizer. Assemelha-se bastante aos outros filmes produzidos pela parceria da Disney – Pixar. Pelos críticos, em Portugal, foi classificado como um filme mediano, de apenas três estrelas. No entanto, nos EUA foi caracterizado como uma metragem de animação muito interessante e de admirável argumento, assim como as personagens. Não é, pois, de admirar que seja um dos filmes nomeados para os Óscares e que tenha sido o segundo na história do cinema a competir lado a lado com filmes que não são de animação na categoria de "Best Picture", para além de também estar indicado para o a categoria de melhor filme de animação e ainda o facto de ter sido duplamente premiado – na categoria de melhor filme de animação e melhor banda sonora na 67ª edição dos Globos de Ouro.

Sendo assim, penso que é possível afirmar que ‘UP’ é claramente um filme que não foi criado apenas para entreter, mas sim para passar uma importante mensagem: que os filmes de animação também podem ser sérios e grandes filmes; tal como afirmou o seu autor. Deste modo, dia 7 de Março espero que Up pise o tapete vermelho do Kodak Theater e saia de lá com uma das estatuetas douradas, que raramente premeiam filmes deste género. Parece-me justo. Mas a verdade é que nem Thomas Edison conseguiu encontrar uma fórmula eficaz para o sucesso, assim como Up, aos olhos de alguns, pode não encontrar.

Ele não está assim tão interessado


A comédia dramática, por vezes, pode ser algo mais do que um simples história, em que o rapaz e rapariga ficam juntos no fim. Esse é o caso deste filme, pois, não há uma personagem principal, mas sim, várias personagens principais que se cruzam e influenciam desde o inicio ao fim dos 129 minutos de película. Do realizador Ken Kwapis e da produção de Drew Barrymore chega-nos um filme que bem poderia ser igual a tantos outros do seu género , mas que se particulariza por tentar mostrar o que não fazer numa relação a partir do que se faz, geralmente, numa futura relação. Apesar de abusar um pouco da hiperbolização do comportamento, por vezes, compulsivo do sexo feminino, “Ele não está assim tão interessado” é uma metragem que procura através do exagero dar a conhecer como muitas mulheres reagem a uma nega, após o primeiro encontro. E como seria bem mais simples se encarassem de frente que afinal “Ele não está assim tão interessado”, apenas, e que deveriam seguir em frente, em vez de esperarem ansiosamente por um telefonema, uma mensagem de voicemail, ou qualquer outra forma de feedback. Por isso, depois de visionar este filme, vai deixar de perguntar-se porque é que já esteve sentado à frente do telefone a perguntar-se por que razão ele disse que ligava, mas nunca o fez, ou por que raio a sua relação não avança para o chamado “next step”... E a resposta será ele ou ela, talvez, não estejam mesmo a fim disso, e o que para uma pessoa pode parecer algo, um indício, para a outra pode ser um gesto ao acaso. Baseado no popular livro dos argumentistas do “Sexo e a cidade”, Greg Behrendt e Liz Tuccilo, “Ele não está assim tão interessado ” conta a história cruzada de um grupo de vintões e trintões de Baltimore, que saltam de relação em relação à procura do “tal”, da pessoa perfeita ou imperfeita, em alguns casos, o que nos faz lembrar um pouco as comédias dramáticas do nosso caro Woody Allen. O argumento não é nada de genial, mas é agradável para se ver num bom fim de tarde. As personagens são ricas, possuem um desenvolvimento psicológico relativamente interessante e até um pouco realista, desempenhando o papel de personagens-tipo. Alguns dos actores presentes no filme são bastante conhecidos, ou não fossem eles Ben Affleck, Drew Barrymore, Jennifer Aniston, Jennifer Connely e Scarlett Johansson. Cada par de personagens representa uma fase da relação, o antes, o durante e o depois, isto é, o antes de se conhecerem, do encontro, o durante/namoro e o depois/casamento. A nível técnico, não é um filme muito exigente e não apresenta traços muito vincados. Os cenários são comuns e o guarda-roupa também é bastante normal. A banda sonora é também bastante casual para o género de filme. Não há por isso nada a apontar. Relativamente aos planos são na sua maioria usados planos médios, gerais e de conjunto. Algumas panorâmicas e, esporadicamente, tilts e travellings, mas nada de extraordinário. Deste modo, penso que é um filme a ver, não é fruto de um best-seller, claramente, nem a obra-prima de um grande realizador, porém faz-nos reflectir acerca do nosso papel extremamente convencionalizado, no que toca a relações.

"Uns Sogros de Fugir"


“Uns sogros de fugir” estreou há pouco mais de uma semana. O título traduzido revela falta de originalidade , pois remete-nos de imediato à dupla de filmes “Um sogro do pior” e “Uma sogra de fugir”. Contudo, o título original prima pela singularidade, já que se intitula:“ Four Christmases”. De forma previsível, o filme decorre na época natalícia. A história é um pouco banal, até para uma comédia romântica. Duas pessoas conhecem-se num bar ao acaso, um deles tenta a sua sorte à maneira antiga (como cavalheiro), o que acaba por não resultar. Opta pela abordagem mais radical, e com isto, conquista a personagem feminina. Passam-se cerca de três anos e Brad (Vince Vaughn) e Kate (Reese Witherspoon) acabam por ter de enfrentar as suas famílias no Natal, já que o seu habitual voo e consequente viagem natalícia foram cancelados à última da hora. Tudo poderia ser bem simples se ambos já conhecessem as respectivas famílias e se as mesmas não fossem tão excêntricas e complexas. Tudo isto poderia ser óptimo para um blockbuster de domingo à tarde, não para um filme a ser exibido no cinema com a assinatura do cineasta Seth Gordon, que até então tinha realizado películas bem mais interessantes. A história só pelo enredo é oca, plagia o argumento de filmes como “Prime”, “Um sogro do pior” e “Separados de Fresco” (curiosamente com o mesmo actor principal). Posteriormente surge uma grande falha surge no que respeita à passagem do tempo. Tudo se passa no mesmo dia, dia de Natal. Abrem-se prendas, passa-se por quatro casas, “do pai dele, da mãe dela, do pai dela, da mãe dele todos no mesmo dia”. O tempo da história é surrealmente extenso para poder se passar apenas num dia. Cheguei a duvidar da minha própria memória. No entanto, a sinopse é confirmada por resumos do filme. As reacções das personagens são previsíveis, assim como o final. Contudo, tem alguma piada em e terminados momentos da história e alguma lividez nas falas. Não tem um desenvolvimento brilhante, mas dá para passar um serão razoável.


Palermo Shooting: a vida e a morte como uma só


Realizado por Wim Wenders e protagonizado por Campino, Dennis Hopper, Giovanna Mezzogiorno, e Lou Reed, “Palermo Shooting” foi a metragem que se destacou no Fantasporto, tanto devido à presença do seu realizador na estreia nacional, como pelo facto de este ter discursado antes da passagem do filme, sem que o público esperasse tal comparência. A história retrata, um pouco, o vazio da vida de alguém, que, potencialmente, parece ter tudo. No entanto, sente que não possui nada, além de si mesmo e dos seus receios. Finn é o protagonista, caracterizando-se pela sua profissão fervorosa de fotógrafo, tanto de estéticas como de moda, sendo que tem tudo o que possivelmente muitos ostentam alcançar. Contudo, a personagem parte da Alemanha para uma cidade chamada Palermo e é lá que se desenrola toda a acção. Deparamo-nos com um debate psicológico gradual que confunde o público e, ao mesmo tempo, leva-o a questionar-se a si mesmo. Desenvolve-se, assim, um conjunto de episódios, curiosamente perturbantes que suscitam a discussão entre a dicotomia vida/morte. Isto leva a leves mechas de insinuações de que Finn está a ser perseguido por alguém ou algo mais concreto que simbolize a morte. A personagem enquanto fotógrafo é acompanhada ao longo da história pela própria “fotografia”, pelo seu significado que, no fim, revela-se inerente ao conceito vida/morte, evidenciado por Wenders. Finn acaba por encontrar alguém, por quem se apaixona e através da qual percebe que, tal como o negativo da película fotográfica, não existe apenas a vida e a morte, mas sim a morte dentro da vida. A fotografia é o alvo que o leva a perceber isso, pois capta a “figura” da morte. Relativamente à banda sonora, esta é muito importante no filme, pois vários episódios passam-se aliados ao colocar dos auscultadores e ao seu tirar, nomeadamente sempre que o “mensageiro” o tenta matar, o protagonista encontra-se a ouvir música e quando a pára é como se saísse de uma neurose e nada se tivesse passado. O oscilar da música marca, assim, uma alternância entre a proximidade do sombrio ou considerado como tal e a vida e o que é considerado real. Embora o filme se apresente bastante subjectivo e abstraccionista, penso que seja agradável frisar que materializa uma excelente obra de introspecção pessoal sobre o que nos rodeia e somos capazes de acreditar. No entanto, não posso deixar de afirmar que fiquei surpreendida, no que diz respeito ao enredo do filme, pois é típico deste realizador tornar as suas películas um pouco monótonas, por conter argumentos extensos ou bastante “parados”. Tal facto não se verificou em “Palermo Shooting”, revelando-se um admirável produto cinematográfico. Contudo, alguns pontos negativos a apontar verificam-se em haver algumas cenas demasiado confusas e o desenvolvimento da posição ser um pouco atrapalhada da personagem principal. Isto leva a uma certa desordem das cenas, o que potencializa alguma não correspondência do espectador. A nível mais técnico, os planos de filmagens devem ser destacados, assim como a técnica fotográfica, salientando as excelentes panorâmicas e alguns travellings que dão a conhecer o contexto do filme. Deste modo, é possível perceber que “Palermo Shotting” engloba um conjunto de elementos que remetem para aquilo que todos tememos, que não haja nada mais para além da morte. 06/03/2009

Fame ou 'Lame'?


Uma ida ao cinema para ver um bom musical ,no século XXI, parece ser algo impossível. Depois de ‘High School Musical’, ‘Mama Mia’ e ‘Hanna Montana - The Movie’, segue-se ‘Fame’. Além de ser um remake, ou versão adaptada, do famoso filme de 1980, este deixa esquecido, nos anos que os separam, o argumento. Não há história, não há enredo e não existe relação entre as personagens. Apesar da excelente produção técnica, o filme não é nada mais do que isso. Os cenários, palcos, músicas e performances ocupam, por inteiro, os 107 minutos de filme. Mas, apesar de ser um musical, existem falhas. Uma das cenas apontadas, como uma das mais críticas, para os mais leigos na área da música, não se revela à primeira vista. Contudo, para os mais entendidos, na cena em que Marco toca piano no restaurante dos pais, seria necessário que este usasse o pedal, para conseguir aquele som; contudo, quando a câmara foca os seus pés, vemos que isso não acontece. Não foi só impressão do meu amigo que tem conhecimentos nesse campo, pois o IMDB também apresenta essa cena como uma falha. O inicio do filme até parece interessante. Mas, passado meia hora do seu começo, a história não se desenvolve. Aquilo que sabíamos das personagens no inicio do filme é o mesmo que sabemos meia hora ou uma hora depois. Não há explicação para o facto de algumas personagens acharem que não podem falhar; não há resposta para o facto de Malik se odiar a si mesmo e aos que o rodeiam; não há resposta para o facto de Jenny, uma das personagens femininas, não ter jeito para nada e, mesmo assim, ter entrado na escola. Ou um exemplo um pouco mais ridículo, o de Joy que decide abandonar a escola de Artes para continuar a trabalhar na Rua Sésamo. São múltiplas as pontas soltas. O cast é excessivamente extenso. Os actores principais confundem-se com os actores secundários, ou simplesmente desaparecem ao longo da história. O meu conselho a Kevin Tancharoen seria que ficasse pelo mundo da música; que não repetisse a façanha de ‘pseudo-cineasta’. Os aspectos que englobam coreografias e todo o semblante do espectáculo estão, verdadeiramente, impressionantes. Porém, não nos podemos esquecer que ‘Fame’ é um filme e não um musical da Broadway, e, por isso, acaba por falhar completamente como metragem. Com Naturi Naughton, Kay Panabaker, Anna Maria Perez de Tagle, Kelsey Grammer, entre outros, ‘Fame’ não conseguiu alcançar a genialidade da sua película antecessora dos anos 80 que vive, ainda, na memória dos nosso pais e avós.

'Cidade de Deus': Aqui tudo é possivel !


Ontem vi um filme chamado 'Cidade de Deus'. É quase impossível que nunca tenham ouvido falar desta metragem, pois em 2003 teve uma grande visibilidade. Apesar de ter uma ideia que o realizador seria conhecido, confesso que só quando comecei a ver o filme é que percebi que Fernando Meirelles era o realizador do mesmo. Tal como em 'Blindness', de 2008, Meirelles prima por passar uma imagem fria, crua e bem terra-a-terra daquilo que é uma vida medíocre numa favela, onde o crime reina e o dia seguinte pode nunca existir.
Antes de o ver, como só foi ontem, devido a vários factores... Tempo, ver outros filmes, não me cativar muito por ser brasileiro. Não é preconceito, simplesmente tenho noção que há uma abordagem diferente e que, embora o cinema brasileiro dê 5 a 0 ao cinema português, ainda está muito aquém do que se faz tanto na Europa como nos EUA. Mas a maioria das pessoas disse-me que gostou muito do filme. Só uma me disse o contrário - que não. Por isso, fui para a frente do meu LCD e Home cinema meia confusa. A minha decisão no fim do filme foi bem diferente de qualquer resposta quase mecânica que me deram quando perguntei se gostavam do filme .Neste sentido, é impossível, pelo menos para mim, dizer objectivamente se gostei ou não da película. Sinceramente, precisa de a ver pelo menos mais uma vez para ter uma opinião definitiva. Porém, a minha opinião resvala mais para o lado do SIM, gostei. Isto porque penso que o realizador explorou a história e explanou-a da única forma que seria possível; de um modo real. As personagens são bem verídicas, assim como o seu campo psicológico. Há um monte de analepses, o que tona 'Cidade de Deus' bastante rica. Tem também uns efeitos bonitos de ver. Ficou acima das minhas expectativas, revelo. Estava à espera de algo mais 'descomplexado', sem grandes pormenores e mais para chocar. Mas deparei-me quase com o oposto. A parte de chocar estava lá, mas era indispensável, contudo a parte complexa existia e,com ela, muitos detalhes que à primeira vista poderiam passar despercebidos. O facto de a personagem 'Buscapé', protagonista que acaba por não o ser durante grande parte da história, ser o narrador e ter o cuidado de ao longo da história quando se mudavam nomes não o fazer logo, primeiro explicava porquê e depois referia-se ainda algumas vezes à pessoa com o nome antigo, todavia gradualmente passava a referi-la com o novo nome; o que dava a sensação de passagem de tempo. Brilhantemente pensado estes pequenos pormenores dão um toque de grande profissionalismo à obra de Fernando Meirelles. No entanto, há também alguns erros. Tenho quase a certeza que a história do motorista do bus, nunca chega a ser contada, embora o narrador diga que será. Mas corrijam-me se não for verdade.
Porém, é difícil comprara ou isolar um filme deste calibre e género. É bem longo. É interessante. É cru. É verídico. E é falado em português, o que o torna particularmente apetecível; é uma nova descoberta do que há de promissor na nossa língua, mesmo que não seja feito por Portugal.
O nome 'Cidade de Deus' não poderia estar melhor, actua de um modo irónico, o título mas, ao mesmo tempo, também actua como definidor do que o filme quer realmente transmitir: nesta cidade há um milagre, e esse milagre é 'Buscapé' ter preferido uma vida honesta à fama, conseguindo, com isso, alcançar o seu sonho, o de ser um fotógrafo; tudo é possível na 'Cidade de Deus' basta acreditar!

Trailer

Séries para toda a 'Community'!


Andava eu ontem desesperada por séries. Séries novas, irónicas, divertidas e inteligentes. Pensava, piamente, que estava destinada a continuar a ver séries que uma semana ou duas depois acabava por ver o anúncio de as mesmas estarem canceladas.
Além do mundo do cinema estar a atravessar a crise do séc. XXI, em que tudo o que é feito tem de dar lucro, também a tv, com as séries, passa pela mesma situação. ABC e outros canais investem apenas por temporadas, temporadas essas que muitas vezes são as primeiras e últimas. São o caso de 'Gravity',' Melrose Place', entre algumas que talvez vocês já tenham visto e sentido aquele sentimento de derrota, de que nunca saberão o que acontece a X ou Y personagem. Como se toda a série tivesse morrido, num 'Lost' sem ilha secreta.
Enquanto algumas séries de algum interesse, para quem não gosta de tudo-o-que-os-outros-gostam-de-ver, são canceladas, outras continuam a ter múltiplas temporadas. 'Lost', depois de tanta promoção, chegou ao fim com um epilogo mal explicado e feito às três pancadas; 'Heroes' teve um destino também irregular, depois de ter sido adorado por uns tempos, foi remetido ao esquecimento e cancelado à pressão.

Agora, voltando ao inicio. Ontem, tive a sorte de me indicarem uma óptima série. 'Community' é o seu nome, e promete arrasar com muita sátira e um argumento muito inteligente à mistura. Ainda vai só na primeira temporada, mas promete, felizmente ,com um aleluia, continuar pelo menos por mais uma.
Terminaram também várias outras séries que começaram só em Setembro ou Janeiro (por ser summer season). São o caso de 'Gossip Girl', 'Dexter', 'Skins' e, uma boa surpresa, 'Pretty Little Liars'. Apesar de ser da ABC, canal que não gosto muito por alguns exemplos como' The Secret Life of a American Teenager', esta tem revelado algumas séries como PLL. Séries que considero boas, direccionadas para um público mais amplo, com um argumento eficaz e cheio de suspense. A par desta, Modern Family, que vi num tempo record. Admito, adorei. Tem tudo para resultar: bom cast,bom argumento e excelente formato. É divertida e descontraída, para a família e para um determinado público.


Resumindo, apesar da falta de apoios e apostas que se fazem nas séries, podemos sorrir, pois estão de novo a florescer brilhantes programas. Programas esses que acompanham os acontecimentos da nossa era e que escarniam dos mesmos!



Foi difícil escolher o excerto de vídeo, ontem, consegui devorar 3 episódios seguidos ;)!Para quem gosta de cinema, como imagino que seja o vosso caso para estarem a ler o meu blogue, esqueci-me de vos adiantar que esta série tem tanto humor como referencias a filmes. O primeiro episódio, como podem ver neste excerto, refere-se ao filme 'Brekfast Club'. É uma sátira que faz de um conjunto de pessoas, uma comunidade que nos entretém; Admito que soltei várias gargalhadas, como já não fazia há imenso tempo!

Inception: o poder de ser capaz de acreditar




Alguma vez acordaram com o coração a palpitar de um sonho, ainda atordoados entre o que é e não é real? Se sim, percebem perfeitamente toda a fisionomia de ‘Inception’. O palpitar do coração; a confusão momentânea de saber o que realmente aconteceu; se aconteceu; se está a acontecer; se realmente estamos ali; se estamos acordados; se estamos a sonhar; se, se e mais se…. Tentámos recordar-nos do que aconteceu. Sentimos algo, por vezes, impossível de descrever. Durante dois ou três minutos a nossa mente não pára e perguntámo-nos se realmente estamos lúcidos?! A pulsação começa abrandar. Algumas memórias vêem ao de cima. Lembramo-nos aos poucos – pequenas imagens, acções e elementos do que sucedeu. Pensamos: Parecia-me tão real. Pensamos: Não era. Pensamos: Não passou de um sonho. E assim cai em esquecimento, sem lhe darmos grande importância, até ao seguinte... O filme de Christopher Nolan consegue transmitir tudo o que enumerei e muito mais! Acrescenta e desenvolve ideias. Nada baseado na fantasia, mas, sim, na lógica. Embora nos pareça quase mágico de tão hipnotizante que é, todo aquele jogo de ilusões e ‘viagens’, não o é. O realizador tem o cuidado, como em outros dos seus filmes, em optar por cientificamente explicar os processos - o que lhe confere veracidade e o que torna ‘Inception’ um filme inteligente e penetrante! Penetrante porque nos leva a pensar…bastante. Comparativamente aos outros filmes que vagueiam por aí, e que vi nos últimos anos a ganhar Óscares, este tem o ‘pacote’ todo, a meu ver, e destrona-os completamente. Desde o argumento brilhante e não oco ou cheio de clichés como a maioria, assim como a nível técnico está brilhante, tem ainda um ritmo invejável, sem tempos mortos, sem cenas para ‘encher chouriços’; todos os elementos que compõe o filme têm um propósito, propósito esse de fazer reflectir o público, de o envolver, de o iludir e de o consumir. Chegamos ao intervalo que existe nas sessões de cinema e sentimo-nos como que mentalmente obrigados a trocar impressões, devido ao excesso de ‘análises’ percepcionadas ao longo da primeira parte. Pelo menos eu senti. Sentimos, também, que é ridiculamente simples, o que o torna complicado para as nossas medíocres mentes. Passamos do real para o sonho, do sonho para o real, e vice-versa, e começamos no sonho que acaba também num ou não. Estas últimas semanas tentei fugir, no verdadeiro sentido, a qualquer tipo de spoiler. Consegui nos máximos que é possível, julgo eu, ao homem dos tempos modernos que possuí a poderosa arca do conhecimento – A Internet. Não foi tarefa fácil, admito, mas venci a curiosidade e guardei-me até este dia. Todos falam de grandes teorias, mas penso que, por isso, os responsáveis pelo filme se deveriam sentir realizados, orgulhosos e até babados pelo efeito que a sua obra teve nas pessoas. Quem viu os anteriores filmes de Nolan percebe que ele é um realizador perspicaz, que ilude e cativa o público, como que por ilusionismo, até ao último instante. É também um profissional que não gosta de facilitar ao público o entendimento do que criou, daí a maioria das pessoas dizerem que filmes como, por exemplo, ‘Memento’ e este último, serem filmes que dão o chamado ‘nó no cérebro’. Vejamos, a maioria das pessoas levantou grandes teorias elaboradas por causa do deambular das personagens entre o sonho e a realidade. Esqueceram-se que ainda estávamos na 7ªarte e que o realizador não o esqueceu. E que o filme é feito para ser realmente visto, com olhos de ver como se costuma dizer, para um público perspicaz. Se estivermos com atenção, penso que se percebe perfeitamente quando supostamente as personagens se encontram nas várias dimensões do sonho e quando regressão à realidade. E, sobretudo, quando passam pelo limbo. Entendemos também quando acordam dentro dos sonhos até chegarem à realidade e que o filme principia-se a partir de uma das partes finais do fim, digamos assim. Compreendemos isso quando a personagem de Leonardo Dicaprio, Mr.Cobb, explica como funciona a passagem para o limbo, dizendo que acontece caso alguém morra na terceira dimensão do sonho, sem acordar nas outras, descrevendo, assim, perfeitamente a cena inicial da película – de Saito, o japonês, que aparece completamente alienado e caquéctico sem ter noção da realidade, como se fosse um fantasma perdido entre a realidade e o sonho. Ao longo do filme são assim nos dadas pistas, pistas essas que coleccionamos até ao julgamento final para decidir - se tudo é um sonho ou se tudo foi real. É de ressalvar a actuação de todos os actores no geral, mas especialmente de Joseph Gordon-Levitt, que me desiludiu imenso no filme ‘500 days of summer’( embora tenha gostado do filme), mas que em ‘Inception’ faz um desempenho admirável: com classe, carisma e uma postura digna de um bom actor. Ellen Page não achei que estivesse brilhante, é um facto, mas também não se saiu mal. Leonardo Dicaprio, tal como em Shutter Island, merece uma salva de palmas pela sua performance eloquente – pena que denote uma certa similaridade com alguns dos seus últimos filmes, mas não deixa de ser uma óptimo desempenho. Marion Cotillard é uma actriz muito peculiar, já entrou em vários filmes conhecidos como ‘La vien Rose’, ‘Public Enimies’ e ‘Big Fish’, por isso, embora tenha um papel relativamente pequeno, percebemos o quanto é boa profissional. Voltando ao argumento. Podemos ainda antes de voltar ao seu significado, por em discussão se é falha de raccord ou quer dizer algo. O facto de numas cenas Mr.Cobb aparecer com aliança e noutras não, não consegui ver ao pormenor, mas reparei. que ele tinha pelo menos quando sonhava, acho que era uma forma de mostrar que nos sonhos ele ainda tinha ligação com a Mal, ao passo que na vida real não. O totem do Mr.cobb também é algo que é passível de se pôr em causa. Se quando esta nos sonhos ele roda infinitamente e quando está acordado não, se isso acontece, porque é que quando mostra Leonardo a ir busca-lo ao cofre, este está parado. Pode ser falta de atenção ou já confusão, mas quando o vir de novo o direi. Agora voltando ao significado da história em si. Basicamente, podemos ver por vários prismas ou podemos tentar ver pelo prisma de Nolan. Quando falo do seu prisma, falo baseado nos filmes que vi do mesmo. Christopher Nolan é um realizador de finais abertos. Finais suspense. Finais dúbios. Finais que julgam e põe o público a pensar, a delirar – como se viu com todas as teorias que circulavam pela internet. O cinéfilo deu-nos a ‘papinha’ toda, digamos. Confrontou-nos com tudo, distraiu-nos até ao último minuto, mesmo depois do clímax em que descobrimos que Mr.Cobb teve culpas no cartório. O realizador brincou com as nossas mentes, interagiu com o público de um modo tão profundo que nos fez duvidar da própria realidade e procurar ainda mais teorias da conspiração. O ‘peão’, um simples objecto, é o que no fim nos deixa a dúvida. Muitos ficaram a pensar que por não ter parado de girar, era tudo um sonho. Mas já pensaram que simplesmente Nolan quis que pensassem isso mesmo? A missão que Saito propõe a Mr.Cobb e à sua equipa é algo muito secundário no filme. Existe um verdadeiro significado que se tenta passar. O peão é uma das peças que nos bloqueia o raciocínio, até ao final. Vemos o que queremos ver, digamos, não as possibilidades do que é possível ver. Mesmo a poucos segundos do fim, quando Leo o põe a girar, esse mesmo ‘peão’ começa a dar a impressão de abrandar o ritmo e de ter uma grande instabilidade como se fosse cair; mas isso nunca saberemos porque Nolan acabou mesmo nesse momento a metragem. Deixando-nos apenas com a imagem e pensamento dividido. Pois aposto que a maioria das pessoas selaram logo o seu veredicto e concluíram: o final foi um sonho. À vista desarmada poderia o fim ser apenas uma brincadeira do responsável por ‘Dark Knight’, mas penso que ele vai mais além…O fim do filme actua como uma metáfora bem maior do que todas as teorias: de que a realidade é aquilo que quisermos – pode ser qualquer uma das que achamos com o filme -, pois a realidade é simplesmente aquilo em que realmente acreditas, seja sonho ou ‘real’; é alternativa. Nolan atira-nos isso à cara de uma forma indirecta, faz-nos querer decifrar algo que não é descodificável e faz-nos querer decidir e adoptar algo como o real, fazendo-nos acreditar nisso – de que há uma verdade. Daí não se ver o que acontece ao peão, uma vez que a própria personagem não espera muito para perceber se este cai ou não, preferindo ir ter com os filhos, escolhendo, portanto, a sua própria realidade! E por isso a afirmação tão certa da personagem de Ellen Page, Ariadne, de que ele ficaria bem e iria voltar, pelo menos, para a ‘sua’ realidade.

Revolutionary Thought ?

Do mesmo realizador de American Beauty surge, assim, mais um filme de Sam Mendes intitulado Revolutionary Road. Mais uma vez, o realizador pretende derrubar e expor entraves sociais de uma sociedade dita “perfeita”, mas que, todavia, não passa de uma comunidade cognitivamente desgastada pela ânsia de esconder o que é socialmente indesejável, tal como, tenta demonstrar com as suas anteriores películas, onde foca a artificialidade da chamada sociedade moderna. Revolutionary Road apresenta uma história de um casal vulgar da contemporaneidade, mais ou menos próxima da que vivemos. O jovem par, April (Kate Winslet) e Frank (Leonardo DiCaprio), apelidados como o casal Wheeler ao longo do filme, conhecem-se numa típica festa dos anos 50, nos EUA. O ambiente que os circunda, aquando das suas primeiras trocas de olhares é inundado pela música, álcool e pessoas de potencial interesse que os rodeiam. Algo que é importante ressalvar é o panorama que se vai mostrar como uma espécie de oximoro comparado com o desfecho final e respectivo estádio das personagens e contexto que as envolve. É com este primeiro encontro, e cena, que April e Frank se apaixonam e casam. Tudo acontece numa sequência de episódios. Vários anos passam...Até a noite em que o casal desenvolve uma abrupta cena de sucessivos ataques entre si e percebe que a sua vida não é mais a mesma de à uns anos atrás, e que vivem numa situação de pura aparência e de escassez de verdadeiros sentimentos. Neste permanente cenários de desavenças, os jovens Wheeler’s encaram a dicotomia de “aquilo que desejavam ser” e aquilo “que são” e, ainda, a problemática que os assombra, a mudança que é necessária, mas para a qual não têm forças para a tornar real. Aparte com os seus vários problemas, o casal é admirado por um conjunto de pessoas. Para dar a entender isso o realizador recorre a várias analepses, durante o filme, que evidenciam as impressões do casal ao encontrar a casa e de como mudaram com o passar dos anos. Dando ênfase à antítese temporal que, posteriormente, se verifica. Embora seja perturbado por problemas psicológicos, John Givings ( Michal Shannon- filho de Helen) ,apesar do seu débil estado, ironicamente, parece ser o único a se aperceber de quão putrefacta pode estar a vida do casal ostentado como “casal modelo”,pela vizinhança. No entanto, o que de inicio parece a solução mais fantástica do mundo, arrasta-se até ao estado de loucura da personagem feminina e ao estado de conformidade da personagem masculina, que é desculpada pela súbita gravidez de April. À semelhança de outros filmes de Sam Mendes, torna-se difícil definir o filme com um só género que seja elucidativo do seu conteúdo total. Pois, do inicio ao fim muda completamente o cerne generativo ou, pelo menos, sofre alterações e alternâncias de uso dos mesmos. O jogo de aparências de um mundo actualmente materialista, e que aposta na superficialidade do meio social, é posto a nu pelo roteiro de Justine Haythe, baseado na obra, já antiga, de Richard Yates, lançada em 1961, Revolutionary Road alcançou uma grande polémica, devido ao facto de ser uma crítica à sociedade contemporânea, como já foi referido, anteriormente. Revelando-se, mesmo, atemporal, já que os assuntos abordados destacam aquilo por que a maioria dos mortais passa, e que podemos chamar de síndrome de “a vida é mesmo só isto?!”. É, portanto, algo que poucos conseguem ultrapassar e ter, isto é plena consciência disso, pois, tal como Frank, muitos são os que advogam outras formas de explorar a vida, e nomeadamente, como April, que acaba por sucumbir à dura realidade da vida e “provoca”, por isso, a sua morte. No que toca aos planos de filmagem, é necessário apontar os planos exagerados que o realizador faz da actriz, que incorpora o papel de April. O que não parece involuntário, mesmo que aconteça inconscientemente, dado que Sam Mendes é na vida real casado com Kate Winslet; o destaque visual da personagem torna-se um pouco suspeito. Embora, seja uma peça chave para a história, a personagem Frank - deva-se apontar que é supostamente a principal - aparece de um modo menos salientado do que a personagem April, que é importante apontar como secundária, já que o mesmo é provado com a nomeação de Kate Winslet como personagem secundária feminina pela sua personagem em Revolutionary Road. Curiosamente, é de assinalar o facto de as personagens, e em específico a de Kate Winslet, abusar do consumo excessivo, ao longo do filme, de tabaco, lembrando um traço típico dos filmes “nouvelle vague”, que acompanham assim o stress incessante da personagem e o seu comportamento consumista de paliativos até ao fim da resenha narrativa. O filme, no geral, tem um aspecto interessante. Não posso contudo terminar sem mencionar o seguinte: são Winslet e DiCarpio que mostram um estupendo desenvolvimento como actores desde Titanic. Já se passaram cerca de 11 anos e a conjuntura que os envolve em Revolutionary Road, embora seja completamente distinta e antagónica, eleva-os à mesma a papeis dramáticos, não deixando contudo de os representar de um modo brilhante e, ao mesmo tempo, com uma diferença de substancialidade e empenho muito ímpar do que aconteceu à mais de uma década atrás.

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"Tim no País das Maravilhas"





Era uma vez um espantoso realizador que primava pela originalidade e pela genialidade de histórias e actores escolhidos para os seus filmes. Esse realizador era Tim Burton. No entanto, desde “Sweeeny Todd: The Demon Barber of Fleet Street” não tem cumprido com estes requisitos e o resto já se sabe… A verdade é que com o novo filme “Alice in Wonderland” todos os fãs, e mesmo público em geral, esperavam o regresso de uma nova película de culto, como foram em tempos “Big Fish”, “Sleepy Hollow” e o extraordinário “Edward Scissorhands”. Este último confesso que é um dos meus favoritos, se não mesmo o filme preferido, e o primeiro em que vi o excelente desempenho do actor Johnny Depp. Mas continuando no país das maravilhas, o realizador gótico falhou em alguns detalhes com “Alice”.

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"Tim no País das maravilhas". Montagem: Andreia Mandim

Deixou um pouco aquém das expectativas o efeito da tecnologia 3D empregue, que potencialmente seria uma mais-valia para os cenários. Não o foi. Mas em vez disso distraiu e cansou os olhos do público, pelo menos no meu entender. O reforço da imagem não se verificou, sendo apenas explicita a tecnologia em poucas cenas - como a final em que aparece a borboleta. O vírus Avatar não tem sucesso em todos os formatos, pois revelou-se desnecessário neste caso. Contudo, não se pode deixar de frisar que a marca do realizador estava lá. O estilo das personagens e deixas das mesmas, na entrada e saída de cenários, fizeram lembrar o mundo de fantasia inerente aos seus antigos filmes. A multiplicidade de cores e o estilo fantástico e sombrio, ao mesmo tempo, esteve presente ao longo da metragem tornando-a hipnotizante.

Mas, mesmo o mais belo tem espinhos, e tal como as rosas “Alice in Wonderland” tem algumas falhas evidentes. Em primeiro lugar, numa das cenas principais, a actriz em criança diz ao seu pai que teve o mesmo sonho das outras noites, mas, mesmo assim, conta-o como se tivesse sido a primeira vez que o teve. Aí se verifica a primeira falha. O argumentista não soube passar do papel para a imagem aquilo que Alice sonhou e errou ao tentar passá-lo através da palavra. Também a actriz que dá corpo a Alice em criança faz um papel muito pouco admirável, há pouca espontaneidade e naturalidade no seu discurso; podiam ter escolhido bem melhor. Mas não são só erros de oratória, mas ainda de raccord que quebram a perfeição da história. Na cena em que Alice encolhe e cresce, sucessivamente, quando esta finalmente encolhe de novo, também a chave diminui de tamanho. Ao contrário do que acontece antes nas cenas anteriores em que ela mantém o tamanho original, e antagónicamente ao filme da Disney em que Alice tem de arrastar a chave gigante até à porta, pois não teve a sorte de que esta diminuísse de tamanho. Apesar de ser um filme de fantasia e, por isso, se julgar que tudo é possível, estes erros apontados são mesmo resultado de descuido. Outro descuido foi deixar Anne Hathaway fazer parte do cast, pois, embora tenha recusado o papel de Alice por argumentar estar colada a papéis semelhantes, a actriz esqueceu-se que o facto de se ser boa actriz mede-se por isso mesmo, pela capacidade de versatilidade e de criação de personagens. Por isso aqui vai um conselho: Se isso é motivo para recusar um bom papel, é melhor continuar mesmo a fazer anedotas como o “Diário da Princesa”.

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Mia Wasikowska interpreta Alice.Foto: 3.bp.blogspot.com interpreta Alice.Foto: 3.bp.blogspot.com

Embora tenha apresentado vários pontos negativos, também existem coisas boas no filme. E é aí que Tim Burton pontua perante o público, e, a meu ver, faz valer os 6,40€ do bilhete. A história tradicional de Alice é assim transformada numa história intemporal, adaptada ao real e quase ao moderno. É uma verdadeira metáfora ao facto de termos poder para decidir as nossas vidas e de que temos sempre a “opção”. Abandonar a fantasia e fazer parte de algo muito maior - da vida tal como ela é. De ressalvar é também o papel de Johnny Depp e de Helena Bonham Carter . Mais uma vez o seu companheiro (pois Helena Carter e Tim são casados) acertou na combinação. O Chapeleiro Louco é quase tão importante como Alice para a história, assim como a Rainha de Copas.

No final de conta os criadores desta Alice gótica até acertaram. Passando assim a mensagem de que mesmo crescendo é possível cultivar alguma magia dentro de nós e não é necessário criar um país das maravilhas para sermos felizes!