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terça-feira, 16 de novembro de 2010

“The Neverending Social Network”





Título: "The Social Network"

Duração
: 121 min

Género: Biografia| Drama|

Realizador: David Fincher

Sinopse: Um aluno sobredotado decide, com a ajuda do seu melhor amigo, criar um novo conceito de rede social. A partir daí não olha a meios para desenvolver aquela que se virá a revelar a mais popular rede social – o Facebook.

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Quando pensamos em David Fincher, considero que é difícil não se sentir uma deliciosa sensação psíquica, pois, automaticamente, nos recordamos de filmes como Fight Club e Se7en. Filmes esses que serviram de pilares para a construção de uma invejada reputação enquanto realizador. Com “The Social Network”, a história conseguiu repetir-se. Mas não totalmente. Não da mesma forma. Não de modo tão completo. Em ambos os filmes, inicialmente referidos, existem magníficos twists finais que nos deixam de boca aberta. Digamos que no novo filme de Fincher esse momento não acontece. Ansiamos e ansiamos. Do inicio até ao último minuto para o seu final e…ele não acontece. Esperamos que nos tenha presenteado com um final secreto, tal como em alguns blockbusters, mas isso não acontece. Esperamos por uma mensagem subliminar, porém isso nunca acontece. Esperamos pelo regresso do antigo Fincher, aquele que arrebatadoramente nos surpreendia e nos dava um murro no estômago com uma narrativa brilhante, mas isso, desde The Curious Case of Benjamin Button” (2008), que já não acontece! Apesar da mudança de estratégia do realizador, neste filme baseado no Facebook, deparámo-nos com um argumento brilhante, soberbo, empolgante, que nos deixa colados ao ecrã, na tentativa de conseguir acompanhar todo um ritmo fulminante e hiperactivo. É como correr uma maratona que não parece ter fim à vista e, quando o vemos, a paragem é tão brusca que nos sentimos ingratos pelo desafio que nunca conseguimos ganhar! Mais uma vez, à semelhança de “Fight Club”, Fincher consegue representar toda uma sociedade. Da sociedade consumista passa para a sociedade da informação. Onde basta um clique para se criar algo, ser alguém, no meio de milhões de pessoas.

O filme foi adaptado a partir da obra de Ben Mezrich, que foi baseado na história real de Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, contada pelo ponto de vista do último. Portanto, é possível que seja demasiado tendenciosa, que Zuckerberg não seja na realidade um nerd tão calculista e ingrato, como é passado na película. As personagens são incríveis. Há uma verdadeira percepção de que estas são verdadeiras, Jesse Eisenberg está óptimo no papel. Desde "Zombieland" que o actor não para de surpreender. Digo agora aos críticos: Qual Michael Cera, qual quê?! Mas Andrew Garfield (“Dr.Parnasus”) brilha também. Este deixa-nos a ansiar ser o seu melhor amigo. Até o Timberlake (“Alphadog”) faz um papel satisfatório (estereótipos à parte). O cast é admirável; tão jovens e tão eficazes. (“Adventureland”)

A montagem paralela dá uma cadência excepcional à metragem. Para não falar da excelente banda sonora, cujo responsável Trent Reznor já se deve sentir orgulhoso por tamanho feito!

No que perde em não ter um clímax, ganha ao ter estes elementos tão extraordinariamente bem pensados! Afinal a marca de Fincher ainda se encontra lá. O filme acaba. E penso que falta algo. Penso para mim: não estou satisfeita, quero mais, por favor! Sim, o tio Fincher habituou-nos mal. Talvez não se deva encarar o filme como um falhanço do realizador, talvez se deva culpar apenas o excesso de expectativas criadas, talvez se deva olhar de frente para a película e encarar que é excelente enquanto biopic e que esta cumpriu a sua missão – a de dar a conhecer a origem do FB e o drama real e inacabado de Mark Zuckerberg.

domingo, 24 de outubro de 2010

Leaves of Grass

Leaves of Grass, Tim Blake Nelson, 105 minutos, Comédia, Drama, Estados Unidos, 2009

Depois de vilão em "Italian Job", esquizofrénico em "Fight Club", skinead em "American History X" e sóciopata em "Primal Fear", Edward Norton dá corpo a não uma, mas, sim, duas personagens, desempenhando o papel de dois irmãos gémeos Bill e Brady.

Mais uma vez, como nos habituou, a sua actuação é refulgente. É impossível não gostar da sua versatilidade muito incomum actualmente. Em "Leaves of Grass" há uma mescla de humor e drama, que resulta num escárnio saudável da vida de uma família bem invulgar e deteriorada pelas diferenças. O filme apresenta também um elenco bem escolhido – Susan Sarandon e Keri Russel fazem as delícias do público em papéis bem encantadores.

Ainda que o filme tenha um bom cast, assim como cenários naturais bastante belos, falha em alguns aspectos. A história não é má de todo, mas um bocado sem sal, digamos que débil. Falta algo. Sente-se uma certa confusão ou estranheza provocada, talvez, pela ausência de um clímax verdadeiramente digno da personagem de Norton. Ou não seria ele o mais adaptado dos actores a enredos com final twist - os casos mais gritantes são "Fight Club" e "Primal Fear".

Embora seja um filme agradável de se ver, não é genial, nem muito menos um filme muito marcante como esperaria. Também não é de desprezar. Mas, sim, de relembrar algumas actuações já mencionadas como eficazes e salutares. De olhar para algumas quotes. Penso que quando chegar a Portugal será uma película que dividirá críticos e públicos. Entre o exangue e o sadio. É ainda apontado como indie por alguns, embora eu ache que esse termo só se aplica a este filme se visto num sentido muito lato e relativo a orçamentos apenas. Contudo a produção é de cariz independente, tendo sido exibido pela primeira vez no Festival de Filmes de Toronto, que já aí suscitou reacções muito controversas.

Há também pontos muitíssimo positivos além dos já mencionados. A personagem mais rural desempenhada por Norton confere grande graça ao filme. Assim como a apresentação do mundo das drogas de forma tão soft e espontaneamente cómica e as peripécias subjacentes.

Escrito e realizado por Tim Blake Nelson, também realizador de "O Brother, Where Art Thou?", o filme tenta passar a mensagem de como o choque entre pessoas completamente diferentes e brilhantes (à sua maneira ou no seu contexto) pode ser benéfico ainda que não seja linearmente bom. A metragem mostra também alguma falta de profundidade psicológica no que toca às personagens. Tirando o duo de irmãos, apesar de "graciosas", as restantes personagens não revelam os seus sentimentos e história anterior ao momento em que surgem na narrativa. Caem de pára-quedas na história. Depois ficam um pouco à margem, e tudo se desenrola à volta do intuito de um dos gémeos - Brady. As outras personagens aparecem mesmo como espécie de fait-divers, ou seja sem realmente terem um papel decisivo no filme além do 'decorativo'.

"Leaves of Grass" poderá se tornar num pequeno guilty-pleasure a meu ver, nunca num filme de culto ou coisa que se pareça, infelizmente, para Tim Blake Nelson não passará de mais um "Hulk" na sua carreira!

Black Dynamit

Black Dynamite, Scott Sanders, 84 min, Estados Unidos, 2010

Imaginem Austin Powers, mais o ambiente dos anos 70, mais mil e um efeitos especiais, muita violência, sexo, imensas acções hiperbólicas e referências à linguagem da blaxploitation. Já imaginaram? Pronto. Então estão perante aquilo que é “Black Dynamite”.

Este filme aspira trazer ao público uma mistura de movimentos cinematográficos. Há nuances daquilo que entendemos por b-movie. Desde o genérico que aparece só depois de uma cena jovial, assim como um certo deslocamento temporal, as próprias personagens, o seu figurino muito estranho, as deixas extremamente cliché e patetas, as acções non-sense e sensação, quase propositada, de pouco cuidado na montagem. Para o público que já tenha visto filmes do género, denota-se nos primeiros minutos a tentativa flagrante de se tentar ridicularizar, no bom sentido, a realização que era feita na altura em que este tipo de filmes saíram – como as explosões muito adulteradas, erros descarados de continuidade, substituição de personagens por outras e mudança da posição de forma inexplicável da personagem.

A nível de cast é difícil avaliar se a prestação é boa ou não. O facto de o filme tentar fazer de propósito uma crítica aos exploitations, filmes de série b e movimentos cinematográficos dos anos 70, faz com que seja difícil apreciar o desempenho dos actores. Michael Jai White (Black Dynamite) é um exemplo. Podemos afirmar que desempenha com eficácia o que lhe parece ser proposto, mas a realidade é que a linha entre o ridículo e a alusão ao estilo dos movimentos é muito ténue.

Contudo, é uma metragem que se vê bem. Tem um grau muito elevado de comicidade, mas que se analisarmos bem percebemos que este exagero tem um propósito. Propósito esse de relembrar um estilo já esquecido, um propósito de fazer um humor diferente, um propósito de tentar trazer o espírito da era da disco – o sexo, o machismo, as roupas e os penteados alucinantes. Todavia, este intuito revela-se também negativo. Para quem não tem conhecimentos da história e movimentos cinematográficos, é difícil entender qual o objectivo do filme. Tal como aconteceu na altura em que o Grindhouse, “Death Proof”, passou nos cinemas português, pois, no fim da sessão, várias foram as pessoas que se queixaram da má qualidade do filme. Deste modo, percebemos com este exemplo que, sem ser contextualizado, o filme pode ser encarado como um desperdício de película.

“Black Dynamite” apresenta-se como uma verdadeira paródia do inicio ao fim, o que leva a que a premissa inicial passe para segundo plano e que o foco esteja apontado a todas as peripécias do protagonista durante todo o filme.

Jackie Brown

Jackie Brown, Quentin Tarantino, 154 min, Drama, Estados Unidos, 1997

Jackie Brown" (JB) é um filme que surgiu, infelizmente, numa altura um pouco ingrata. As obras que o antecederam -"Pulp Fiction" e "Reservoir Dogs"- elevaram o realizador a um patamar mais elevado e exigente. Devido às expectativas criadas, "JB" foi menosprezado, pelo público, por não alcançar ou superar os filmes antecedentes de Tarantino. Tornando-se, porém, mais tarde num filme de culto por pertencer mais à filmografia do realizador do que propriamente pelo seu valor individual enquanto longa-metragem.

A meu ver esta película não é nenhuma obra-prima. Claramente. Mas também não é de longe um mau filme. É, sim, distinto do que o realizador havia feito até a 1997. É um filme mais maduro; onde Tarantino mostra o seu consolidar enquanto cineasta. Sendo assim foca-se mais nas personagens e nos seus problemas como pessoas – exemplo da personagem principal, Jackie Brown (Pam Grier), e o medo de envelhecer, que é um tema tratado implicitamente no filme.

O recurso a movimentos como o blaxploitation* está presente. Assim o também realizador de "Pulp Fiction" alia este conceito ao seu filme, usando como protagonista Pam Grier e antagonista Samuel L. Jackson, ambos de origem negra. O que exalta o teor do filme como posterior película de culto.

Relativamente aos actores, a sua prestação é bastante boa no geral. A de Samuel L. Jackson é deliciosa, hilariante, incorporando neste filme uma das personagens mais alienadas que já fez desde "Pulp Fiction" (1994). Robert De Niro ( "Taxi Driver"), embora tenha um papel pequeno, mostra-se, mesmo assim, eficiente. Quando vemos "Jackie Brown" dá uma certa saudade dos longos tempos áureos destes dois actores que foram levados pela maré comercial. Por fim, Robert Forster ("Mulholland Drive") - que foi nomeado para o Óscar de melhor actor secundário - e Pam Grier ("Mars Attacks!") têm papéis bastante interessantes, que desempenham com mestria.

O guião está baseado na novela "Rum Punch" de Elmore Leonard, este foi reescrito por Quentin Tarantino, tendo assim várias alterações tanto nas personagens como no rumo da história. Sente-se assim a presença do realizador cena a cena. Desde o inicio, que é muito próprio dos seus outros filmes, pois somos introduzidos pela protagonista filmada de ângulo lateral dando a ideia de que nos temos de focar nela e não no que a rodeia. Os planos próximos/muito grandes planos das personagens também são constantes e característicos. Mais ainda é o 'plano da mala', que aparece em todos os filmes do realizador. A narração não linear é mais um dos traços dos filmes de QT; com diálogos memoráveis e uma importante dose de violência e sangue sublimados esteticamente e atenuados por um toque humorístico único (apesar de em "JB" haver menos cenas do que em "Reservoir Dogs" e demais filmes). Sinais emblemáticos do cinema independente que ainda hoje abre portas a muitos jovens cineastas. Outras marcas são evidentes; o fetiche pelos pés femininos, a protagonista ser uma mulher - tal como QT já nos habituou em "Kill Bill" com Uma Turman e "Death Proof" com Rose McGowan e as restantes actrizes, por exemplo. A referência a filmes de série B também está presente, começando logo pelos títulos, assim como alguns planos, falas, mortes e o tipo de personagens/ história. A soundtrack é outro dos pontos a aplaudir. Os filmes do realizador têm felizmente a tradição de nos trazer aos ouvidos bons temas que acompanham o filme, conferindo-lhe ritmo a toda a narrativa e graça, além de um agradável bem-estar.

Apesar de estar ciente que os diálogos longos são uma marca já conhecida dos filmes de Quentin e embora sejam brilhantes, o facto de "JB" não ter tanta acção faz com que o público se aborreça. Existem ainda algumas falhas de racord, principalmente a nível cronológico. Exemplo disso é a cena em que se vê o calendário na cozinha de Jackie e este é de 1997 e não de 95, ano da história.

Há quem o reprove moralmente, mas é impossível negar a talento de Tarantino. Talento esse que cria arte que surge da combinação esplêndida daquilo que de mais real há - a violência verbal e visual (gore), a nudez e sexo, o álcool e drogas, que se juntam harmoniosamente. Dando, então, origem a algo antagónico e primoroso chamado 7ª Arte.

*Blaxplotation: Estes tipos de filmes eram protagonizados e realizados por pessoas negras e tinham como público-alvo, sobretudo, os negros norte-americanos


"Embargo"


Embargo, António Ferreira, 80 min, Drama, Portugal, 2010,

Depois de 'Blindness', as obras de José Saramago voltam a dar origem a outro filme - "Embargo". Mas, desta vez, a história é passada em Portugal, mais propriamente Coimbra, e tem a realização de António Ferreira. Este aparece-nos como uma combinação do estilo que se vê lá fora, mas também com um toque tradicional português. Como é esta receita possível? Terei de ser um pouco spoiler e evocar as falas da personagem de José Raposo que insiste, ao costume incessante ilógico de um bom português, que o protagonista "deve ser de Braga". Digamos que, apesar do que se vê no cinema português, cuja indústria é inexistente, este filme não pretende ser um 'mainstream norte-americano wannabe" como, infelizmente, parece cada vez mais costume- temos o exemplo dos chamados filmes de autor.

Assim, o filme apresenta-se como uma lufada de originalidade, que ainda com bastante falhas, quer técnicas, quer de argumento, mostra um pouco dos maneirismos nacionais e, ao mesmo tempo, universais do homem. "Embargo" consegue surpreender e deve ser compreendido à luz do tipo de filme e de equipa que o criou, tendo em conta o seu contexto e recursos – maioritariamente lusos apesar da cooperação espanhola e brasileira.

Muitos críticos apontaram-no como 'uma história negra e absurda que os irmãos Cohen se lembrariam, mas que por eles nunca foi feita '. Concordo. Mas concordo ainda mais que a genialidade de Saramago está à frente dos afamados realizadores. Difícil de transportar para o ecrã, principalmente com os recursos português, o filme teve os seus vivas no festival FantasPorto. Aí foi a primeira vez que ouvi falar dele.

Todavia, como já tinha assinalado, existem algumas falhas técnicas evidentes. Logo no inicio, os movimentos de câmara são demasiado abruptos e descuidados. Há uma necessidade de através da deambulação da câmara se mostrar o que se está a passar, mas isso não resulta muito bem. Confunde e distrai o público. Pelo menos foi o meu caso. Esse é o descuido número um. O número dois é a personagem Laura, pode ser apenas um atraso do som, mas a voz da criança parece demasiado artificial e descentrada dos movimentos da sua boca. O último grande erro, e talvez o mais fatal, é a duração do filme. Apesar de já parecer pouco 80 minutos, a meia hora do fim o filme perde-se. Torna-se chato, lento e pouco atractivo. A causa deve-se ao clímax que é demasiado tardio, pois o argumento seria impecável para um short film e não para uma longa-metragem.

Ainda existem muitos acertos que têm de ser feitos para se chegar ao nível do bom cinema europeu. É necessário também bons actores - o que lhe falta um pouco -, pois os indivíduos secundários são todos muito amadores. Pelo contrário o elenco principal é bastante bom, Filipe Costa, que curiosamente é músico na vida real, possui uma performance invejável, sem sair do personagem em nenhum momento. Ainda que curta, a prestação de José Raposo é deliciosamente benéfica. Também admirável é a cenografia do filme. Em especial a reconstrução do ambiente vivido nos anos 70, dotado de uma fotografia inteligentemente encaixada ao ritmo da narração, possibilitando assim dar vida ao conto homónimo de Saramago.

O bom humor do escritor, que infelizmente faleceu antes de ver a estreia da película, está presente desde o princípio ao fim da longa-metragem. Neurótico. Estranho. Peculiar. Sublime. É assim que caracterizo "Embargo", que pode ser o princípio do fim do embargo do bom cinema português.

"Adventureland"

Adventureland, Greg Mottola, 107 min, Comédia, Drama, Romance, Canadá, 2009,

Embora não tenha chegado às nossas salas de cinema, ‘’Adventureland’’ mostra bastantes afinidades com filmes que todos nós já tivemos a oportunidade de ver. À semelhança de ‘’Juno’’, é incrivelmente dramático, todavia extremamente divertido e leve. É um novo estilo ‘indie’. Os actores são conhecidos (apesar de jovens), o argumento envolve um romance pouco convencional, geralmente juvenil, e um pequeno orçamento é acompanhado por mais uns zeros à direita e não por uma câmara e conjunto de actores desconhecidos como outrora acontecia.

Do mesmo realizador de ’Superbad’, não é de estranhar as similaridades também existentes entre ambos; o mesmo estilo de cast é apresentado – salientando o protagonista que é sempre uma espécie de ‘anticool’, de adolescente com mau karma e que de repente vê a sua vida mudar.

Greg Mottola reúne um leque de actores muito distintos, o que poderia acabar num verdadeiro falhanço. No entanto a receita até funciona bem, apesar de Kristen Stewart - conhecida de filmes como ‘Crepúsculo’’ e o mais esquecido ‘Sala de Pânico’ - continuar a parecer, por vezes, apática e pouco preparada para papéis que exijam alguma versatilidade e não só saber as deixas; há a falta de alguma química entre a personagem de Jesse Eisenberg (James) e de Kristen (Em), o que empobrece um pouco o filme. Porém, é de ressalvar a prestação de Eisenberg – que futuramente estreará nos grandes ecrãs nacionais como protagonista em ‘The Social Network’. Embora faça lembrar as múltiplas e sócias personagens de Michael Cera, não é de deixar passar que consegue dar na perfeição vida à respectiva personagem. Apesar da lacuna que Kristen representa (pois acredito que outra actriz, talvez não conhecida, fizesse um melhor papel) a quebra é camuflada pelo argumento, que envolve o público.

O filme brilha em mais alguns aspectos. As deixas são um exemplo de como um filme pode ter uma excelente combinação de dualidade de género; escárnio e desgraça que podem ser exprimidos por uma das marcantes taglines :” It was the worst job they ever imagined… and the best time of their lives.”

As peripécias da personagem principal são bastante realistas. Vários temas são expostos de um modo pouco penoso, desde a falta de dinheiro à traição, tudo passa por “Adventureland”. Até o actor Ryan Reynolds. Este surge-nos num papel mais negativo do que aquele que estamos acostumados a ver nas comédias românticas, ou ‘teen’, que anteriormente protagonizou (Van Wilder).

A nível técnico não existe nada de particular a valorizar. É bastante linear e simplista, sem grandes efeitos ou recurso a planos invulgares; há apenas um predomínio da reconstrução do ambiente vivido no fim dos anos 80 – a roupa, as músicas, os penteados, entre outros aspectos - , que é de louvar por ser tão fidedigno.

Embora não consiga fazer sombra ao sucesso de Jason Reitman, que já tem três filmes muito conhecidos no seu currículo, Greg Mottola fez um óptimo trabalho. Não foi só a realização, mas também a escrita do argumento que são da sua autoria. Além de que supostamente este usa o filme para retratar alguns momentos biográficos da sua juventude. Talvez isso justifique o porquê do evidente aprofundamento psicológico de quase todas as personagens. Paralelamente aos pontos positivos, pode-se encontrar ainda alguns pontos negativos. O filme não consegue fugir ao eterno cliché do romance que no fim vence, nem a uma história que se vê solucionada perto do clímax, como “500 days of summer” orgulhosamente consegue. Mas, pelo menos, se este género continuar a proliferar, posso dizer que vale a pena, pois, se não abusarem do conceito, é uma boa escapatória para a trivialidade em que caiu o género comédia romântica ou comedia ‘teen’, um lugar-comum onde, infelizmente, não há realmente uma história.

Crítica por Andreia Mandim


domingo, 22 de agosto de 2010

Crítica:Accordind to Greta


Drama, Romance e um pouco de humor negro é tudo o que podemos ver ao assistir 'According to Greta', um filme que retrata uma jovem problemática.
Hillary Duff é Greta, uma rapariga que é enviada, pela sua mãe, para a casa dos avós no Verão. Visto assim seria bastante simples e algo quase comum, o problema é que esta foi mandada para New Jersey porque a sua instabilidade estava a ameaçar o novo casamento da sua mãe. A irreverência da adolescente de 16 anos põe todos em alvoroço, mas isso está prestes a mudar...
Não querendo ser 'spoiler', paro por aqui no que toca a descrever a história do filme.
A história tem duas fases: uma em que o argumento parece um autêntico plágio de 'Georgia Rule' e outro em que algumas revelações mudam um pouco o cerne da história.
O suicídio é parece-me ser tratado de um modo pouco sério. Às vezes, dá-se grande ênfase ao mesmo, mas, de outras vezes, é um pouco visto como o fruto de um drama caprichoso juvenil.
Não sei se o orçamento foi muito reduzido, todavia, a poucos minutos do final acontecem mil e uma coisas, como se fossem resumidas ao máximo. Perdem-se muitas cenas que deveriam ter sido desenvolvidas e exploradas; o sentido da história perde-se... O desfecho do filme,basicamente, é feito às três pancadas e põe assim fim à esperança de que fosse um bom filme para ser um filme de domingo à tarde. Contudo é agradável de se ver, é soft e, com certeza, que já muitas pessoas passaram por alguns dos dramas de 'Greta' e se irão identificar...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Up...Altamente?

UP-Altamente” é um dos mais recentes filmes da Pixar que mistura ficção e realidade. Através de uma história de amor, aventura, nostalgia e utopia, a película animada expõe um tema bem real e intemporal – a dos sonhos perdidos no tempo.

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Cena da película "UP! - Altamente". Foto: cinema.sapo.pt

Carl Fredricksen é a personagem principal. A sua vida é o fio condutor para o desenvolvimento de toda a história, que retrata o quão breve pode parecer uma vida repleta de felicidade, de sonhos e de companheirismo. Contudo, tal como o velho ditado diz: “O que é bom passa depressa.” E foi isso mesmo que aconteceu a Carl. A vida da personagem passa vários estádios. O filme inicia-se com a figura de Carl em criança. É em pequeno que cedo encontra a pessoa que, mais tarde, se revelará a “companheira para toda a vida”. Brincam, sorriem, crescem e apaixonam-se. Já adultos tentam alcançar alguns dos seus sonhos de infância; a sua casa é um exemplo. No entanto, outros sonhos são deixados para trás… O sonho laboral de infância é substituído pela profissão de vendedor de balões. E passam-se assim vários anos.

Um dia o vendedor de balões reformado decide concretizar, em conjunto com a sua mulher, o seu maior desejo, mas… a sua amada morre e este fica sozinho. A vida em casal dá lugar a uma vida de solidão. Para não me arriscar a ser ‘spoiler’, fico-me por aqui no que toca à descrição do argumento do filme de Pete Docter .

Apesar de ser um filme de animação e, por isso, a maioria das pessoas achar que é dirigido apenas às crianças, os assuntos que são tratado em “UP” são bastante sérios. O medo da solidão, a velhice, a mudança, os sonhos deixados para trás, assim como a morte, são alguns deles. Este é um filme de formato para o público mais novo – de animação - mas que possui um argumento extremamente adulto. Talvez o autor tenha pensado também nos pais quando escreveu o argumento, ou, pura e simplesmente, tenha achado importante dar a conhecer o mundo tal como ele é.

Também as personagens têm um papel para além do vulgar. Elas actuam um pouco como personagens-tipo, que dão corpo à “velhice”- Carl - e “infância”- Russel.

O filme mexe com o público, que pode rir, chorar e pensar enquanto assiste ao filme, pois este permite que o façamos. A velhice é algo temido, contudo penso que os criadores desta película, que também são os de “Nemo” e “Monsters Inc.”, também querem dar a conhecer o outro lado da moeda. Deixar ver para lá do que nos assusta, ver que pudemos aproveitar a vida mesmo quando já parece tarde demais.

A nível estético não há muito para dizer. Assemelha-se bastante aos outros filmes produzidos pela parceria da Disney – Pixar. Pelos críticos, em Portugal, foi classificado como um filme mediano, de apenas três estrelas. No entanto, nos EUA foi caracterizado como uma metragem de animação muito interessante e de admirável argumento, assim como as personagens. Não é, pois, de admirar que seja um dos filmes nomeados para os Óscares e que tenha sido o segundo na história do cinema a competir lado a lado com filmes que não são de animação na categoria de "Best Picture", para além de também estar indicado para o a categoria de melhor filme de animação e ainda o facto de ter sido duplamente premiado – na categoria de melhor filme de animação e melhor banda sonora na 67ª edição dos Globos de Ouro.

Sendo assim, penso que é possível afirmar que ‘UP’ é claramente um filme que não foi criado apenas para entreter, mas sim para passar uma importante mensagem: que os filmes de animação também podem ser sérios e grandes filmes; tal como afirmou o seu autor. Deste modo, dia 7 de Março espero que Up pise o tapete vermelho do Kodak Theater e saia de lá com uma das estatuetas douradas, que raramente premeiam filmes deste género. Parece-me justo. Mas a verdade é que nem Thomas Edison conseguiu encontrar uma fórmula eficaz para o sucesso, assim como Up, aos olhos de alguns, pode não encontrar.

Ele não está assim tão interessado


A comédia dramática, por vezes, pode ser algo mais do que um simples história, em que o rapaz e rapariga ficam juntos no fim. Esse é o caso deste filme, pois, não há uma personagem principal, mas sim, várias personagens principais que se cruzam e influenciam desde o inicio ao fim dos 129 minutos de película. Do realizador Ken Kwapis e da produção de Drew Barrymore chega-nos um filme que bem poderia ser igual a tantos outros do seu género , mas que se particulariza por tentar mostrar o que não fazer numa relação a partir do que se faz, geralmente, numa futura relação. Apesar de abusar um pouco da hiperbolização do comportamento, por vezes, compulsivo do sexo feminino, “Ele não está assim tão interessado” é uma metragem que procura através do exagero dar a conhecer como muitas mulheres reagem a uma nega, após o primeiro encontro. E como seria bem mais simples se encarassem de frente que afinal “Ele não está assim tão interessado”, apenas, e que deveriam seguir em frente, em vez de esperarem ansiosamente por um telefonema, uma mensagem de voicemail, ou qualquer outra forma de feedback. Por isso, depois de visionar este filme, vai deixar de perguntar-se porque é que já esteve sentado à frente do telefone a perguntar-se por que razão ele disse que ligava, mas nunca o fez, ou por que raio a sua relação não avança para o chamado “next step”... E a resposta será ele ou ela, talvez, não estejam mesmo a fim disso, e o que para uma pessoa pode parecer algo, um indício, para a outra pode ser um gesto ao acaso. Baseado no popular livro dos argumentistas do “Sexo e a cidade”, Greg Behrendt e Liz Tuccilo, “Ele não está assim tão interessado ” conta a história cruzada de um grupo de vintões e trintões de Baltimore, que saltam de relação em relação à procura do “tal”, da pessoa perfeita ou imperfeita, em alguns casos, o que nos faz lembrar um pouco as comédias dramáticas do nosso caro Woody Allen. O argumento não é nada de genial, mas é agradável para se ver num bom fim de tarde. As personagens são ricas, possuem um desenvolvimento psicológico relativamente interessante e até um pouco realista, desempenhando o papel de personagens-tipo. Alguns dos actores presentes no filme são bastante conhecidos, ou não fossem eles Ben Affleck, Drew Barrymore, Jennifer Aniston, Jennifer Connely e Scarlett Johansson. Cada par de personagens representa uma fase da relação, o antes, o durante e o depois, isto é, o antes de se conhecerem, do encontro, o durante/namoro e o depois/casamento. A nível técnico, não é um filme muito exigente e não apresenta traços muito vincados. Os cenários são comuns e o guarda-roupa também é bastante normal. A banda sonora é também bastante casual para o género de filme. Não há por isso nada a apontar. Relativamente aos planos são na sua maioria usados planos médios, gerais e de conjunto. Algumas panorâmicas e, esporadicamente, tilts e travellings, mas nada de extraordinário. Deste modo, penso que é um filme a ver, não é fruto de um best-seller, claramente, nem a obra-prima de um grande realizador, porém faz-nos reflectir acerca do nosso papel extremamente convencionalizado, no que toca a relações.

"Uns Sogros de Fugir"


“Uns sogros de fugir” estreou há pouco mais de uma semana. O título traduzido revela falta de originalidade , pois remete-nos de imediato à dupla de filmes “Um sogro do pior” e “Uma sogra de fugir”. Contudo, o título original prima pela singularidade, já que se intitula:“ Four Christmases”. De forma previsível, o filme decorre na época natalícia. A história é um pouco banal, até para uma comédia romântica. Duas pessoas conhecem-se num bar ao acaso, um deles tenta a sua sorte à maneira antiga (como cavalheiro), o que acaba por não resultar. Opta pela abordagem mais radical, e com isto, conquista a personagem feminina. Passam-se cerca de três anos e Brad (Vince Vaughn) e Kate (Reese Witherspoon) acabam por ter de enfrentar as suas famílias no Natal, já que o seu habitual voo e consequente viagem natalícia foram cancelados à última da hora. Tudo poderia ser bem simples se ambos já conhecessem as respectivas famílias e se as mesmas não fossem tão excêntricas e complexas. Tudo isto poderia ser óptimo para um blockbuster de domingo à tarde, não para um filme a ser exibido no cinema com a assinatura do cineasta Seth Gordon, que até então tinha realizado películas bem mais interessantes. A história só pelo enredo é oca, plagia o argumento de filmes como “Prime”, “Um sogro do pior” e “Separados de Fresco” (curiosamente com o mesmo actor principal). Posteriormente surge uma grande falha surge no que respeita à passagem do tempo. Tudo se passa no mesmo dia, dia de Natal. Abrem-se prendas, passa-se por quatro casas, “do pai dele, da mãe dela, do pai dela, da mãe dele todos no mesmo dia”. O tempo da história é surrealmente extenso para poder se passar apenas num dia. Cheguei a duvidar da minha própria memória. No entanto, a sinopse é confirmada por resumos do filme. As reacções das personagens são previsíveis, assim como o final. Contudo, tem alguma piada em e terminados momentos da história e alguma lividez nas falas. Não tem um desenvolvimento brilhante, mas dá para passar um serão razoável.


Palermo Shooting: a vida e a morte como uma só


Realizado por Wim Wenders e protagonizado por Campino, Dennis Hopper, Giovanna Mezzogiorno, e Lou Reed, “Palermo Shooting” foi a metragem que se destacou no Fantasporto, tanto devido à presença do seu realizador na estreia nacional, como pelo facto de este ter discursado antes da passagem do filme, sem que o público esperasse tal comparência. A história retrata, um pouco, o vazio da vida de alguém, que, potencialmente, parece ter tudo. No entanto, sente que não possui nada, além de si mesmo e dos seus receios. Finn é o protagonista, caracterizando-se pela sua profissão fervorosa de fotógrafo, tanto de estéticas como de moda, sendo que tem tudo o que possivelmente muitos ostentam alcançar. Contudo, a personagem parte da Alemanha para uma cidade chamada Palermo e é lá que se desenrola toda a acção. Deparamo-nos com um debate psicológico gradual que confunde o público e, ao mesmo tempo, leva-o a questionar-se a si mesmo. Desenvolve-se, assim, um conjunto de episódios, curiosamente perturbantes que suscitam a discussão entre a dicotomia vida/morte. Isto leva a leves mechas de insinuações de que Finn está a ser perseguido por alguém ou algo mais concreto que simbolize a morte. A personagem enquanto fotógrafo é acompanhada ao longo da história pela própria “fotografia”, pelo seu significado que, no fim, revela-se inerente ao conceito vida/morte, evidenciado por Wenders. Finn acaba por encontrar alguém, por quem se apaixona e através da qual percebe que, tal como o negativo da película fotográfica, não existe apenas a vida e a morte, mas sim a morte dentro da vida. A fotografia é o alvo que o leva a perceber isso, pois capta a “figura” da morte. Relativamente à banda sonora, esta é muito importante no filme, pois vários episódios passam-se aliados ao colocar dos auscultadores e ao seu tirar, nomeadamente sempre que o “mensageiro” o tenta matar, o protagonista encontra-se a ouvir música e quando a pára é como se saísse de uma neurose e nada se tivesse passado. O oscilar da música marca, assim, uma alternância entre a proximidade do sombrio ou considerado como tal e a vida e o que é considerado real. Embora o filme se apresente bastante subjectivo e abstraccionista, penso que seja agradável frisar que materializa uma excelente obra de introspecção pessoal sobre o que nos rodeia e somos capazes de acreditar. No entanto, não posso deixar de afirmar que fiquei surpreendida, no que diz respeito ao enredo do filme, pois é típico deste realizador tornar as suas películas um pouco monótonas, por conter argumentos extensos ou bastante “parados”. Tal facto não se verificou em “Palermo Shooting”, revelando-se um admirável produto cinematográfico. Contudo, alguns pontos negativos a apontar verificam-se em haver algumas cenas demasiado confusas e o desenvolvimento da posição ser um pouco atrapalhada da personagem principal. Isto leva a uma certa desordem das cenas, o que potencializa alguma não correspondência do espectador. A nível mais técnico, os planos de filmagens devem ser destacados, assim como a técnica fotográfica, salientando as excelentes panorâmicas e alguns travellings que dão a conhecer o contexto do filme. Deste modo, é possível perceber que “Palermo Shotting” engloba um conjunto de elementos que remetem para aquilo que todos tememos, que não haja nada mais para além da morte. 06/03/2009

Fame ou 'Lame'?


Uma ida ao cinema para ver um bom musical ,no século XXI, parece ser algo impossível. Depois de ‘High School Musical’, ‘Mama Mia’ e ‘Hanna Montana - The Movie’, segue-se ‘Fame’. Além de ser um remake, ou versão adaptada, do famoso filme de 1980, este deixa esquecido, nos anos que os separam, o argumento. Não há história, não há enredo e não existe relação entre as personagens. Apesar da excelente produção técnica, o filme não é nada mais do que isso. Os cenários, palcos, músicas e performances ocupam, por inteiro, os 107 minutos de filme. Mas, apesar de ser um musical, existem falhas. Uma das cenas apontadas, como uma das mais críticas, para os mais leigos na área da música, não se revela à primeira vista. Contudo, para os mais entendidos, na cena em que Marco toca piano no restaurante dos pais, seria necessário que este usasse o pedal, para conseguir aquele som; contudo, quando a câmara foca os seus pés, vemos que isso não acontece. Não foi só impressão do meu amigo que tem conhecimentos nesse campo, pois o IMDB também apresenta essa cena como uma falha. O inicio do filme até parece interessante. Mas, passado meia hora do seu começo, a história não se desenvolve. Aquilo que sabíamos das personagens no inicio do filme é o mesmo que sabemos meia hora ou uma hora depois. Não há explicação para o facto de algumas personagens acharem que não podem falhar; não há resposta para o facto de Malik se odiar a si mesmo e aos que o rodeiam; não há resposta para o facto de Jenny, uma das personagens femininas, não ter jeito para nada e, mesmo assim, ter entrado na escola. Ou um exemplo um pouco mais ridículo, o de Joy que decide abandonar a escola de Artes para continuar a trabalhar na Rua Sésamo. São múltiplas as pontas soltas. O cast é excessivamente extenso. Os actores principais confundem-se com os actores secundários, ou simplesmente desaparecem ao longo da história. O meu conselho a Kevin Tancharoen seria que ficasse pelo mundo da música; que não repetisse a façanha de ‘pseudo-cineasta’. Os aspectos que englobam coreografias e todo o semblante do espectáculo estão, verdadeiramente, impressionantes. Porém, não nos podemos esquecer que ‘Fame’ é um filme e não um musical da Broadway, e, por isso, acaba por falhar completamente como metragem. Com Naturi Naughton, Kay Panabaker, Anna Maria Perez de Tagle, Kelsey Grammer, entre outros, ‘Fame’ não conseguiu alcançar a genialidade da sua película antecessora dos anos 80 que vive, ainda, na memória dos nosso pais e avós.

'Cidade de Deus': Aqui tudo é possivel !


Ontem vi um filme chamado 'Cidade de Deus'. É quase impossível que nunca tenham ouvido falar desta metragem, pois em 2003 teve uma grande visibilidade. Apesar de ter uma ideia que o realizador seria conhecido, confesso que só quando comecei a ver o filme é que percebi que Fernando Meirelles era o realizador do mesmo. Tal como em 'Blindness', de 2008, Meirelles prima por passar uma imagem fria, crua e bem terra-a-terra daquilo que é uma vida medíocre numa favela, onde o crime reina e o dia seguinte pode nunca existir.
Antes de o ver, como só foi ontem, devido a vários factores... Tempo, ver outros filmes, não me cativar muito por ser brasileiro. Não é preconceito, simplesmente tenho noção que há uma abordagem diferente e que, embora o cinema brasileiro dê 5 a 0 ao cinema português, ainda está muito aquém do que se faz tanto na Europa como nos EUA. Mas a maioria das pessoas disse-me que gostou muito do filme. Só uma me disse o contrário - que não. Por isso, fui para a frente do meu LCD e Home cinema meia confusa. A minha decisão no fim do filme foi bem diferente de qualquer resposta quase mecânica que me deram quando perguntei se gostavam do filme .Neste sentido, é impossível, pelo menos para mim, dizer objectivamente se gostei ou não da película. Sinceramente, precisa de a ver pelo menos mais uma vez para ter uma opinião definitiva. Porém, a minha opinião resvala mais para o lado do SIM, gostei. Isto porque penso que o realizador explorou a história e explanou-a da única forma que seria possível; de um modo real. As personagens são bem verídicas, assim como o seu campo psicológico. Há um monte de analepses, o que tona 'Cidade de Deus' bastante rica. Tem também uns efeitos bonitos de ver. Ficou acima das minhas expectativas, revelo. Estava à espera de algo mais 'descomplexado', sem grandes pormenores e mais para chocar. Mas deparei-me quase com o oposto. A parte de chocar estava lá, mas era indispensável, contudo a parte complexa existia e,com ela, muitos detalhes que à primeira vista poderiam passar despercebidos. O facto de a personagem 'Buscapé', protagonista que acaba por não o ser durante grande parte da história, ser o narrador e ter o cuidado de ao longo da história quando se mudavam nomes não o fazer logo, primeiro explicava porquê e depois referia-se ainda algumas vezes à pessoa com o nome antigo, todavia gradualmente passava a referi-la com o novo nome; o que dava a sensação de passagem de tempo. Brilhantemente pensado estes pequenos pormenores dão um toque de grande profissionalismo à obra de Fernando Meirelles. No entanto, há também alguns erros. Tenho quase a certeza que a história do motorista do bus, nunca chega a ser contada, embora o narrador diga que será. Mas corrijam-me se não for verdade.
Porém, é difícil comprara ou isolar um filme deste calibre e género. É bem longo. É interessante. É cru. É verídico. E é falado em português, o que o torna particularmente apetecível; é uma nova descoberta do que há de promissor na nossa língua, mesmo que não seja feito por Portugal.
O nome 'Cidade de Deus' não poderia estar melhor, actua de um modo irónico, o título mas, ao mesmo tempo, também actua como definidor do que o filme quer realmente transmitir: nesta cidade há um milagre, e esse milagre é 'Buscapé' ter preferido uma vida honesta à fama, conseguindo, com isso, alcançar o seu sonho, o de ser um fotógrafo; tudo é possível na 'Cidade de Deus' basta acreditar!

Trailer

Séries para toda a 'Community'!


Andava eu ontem desesperada por séries. Séries novas, irónicas, divertidas e inteligentes. Pensava, piamente, que estava destinada a continuar a ver séries que uma semana ou duas depois acabava por ver o anúncio de as mesmas estarem canceladas.
Além do mundo do cinema estar a atravessar a crise do séc. XXI, em que tudo o que é feito tem de dar lucro, também a tv, com as séries, passa pela mesma situação. ABC e outros canais investem apenas por temporadas, temporadas essas que muitas vezes são as primeiras e últimas. São o caso de 'Gravity',' Melrose Place', entre algumas que talvez vocês já tenham visto e sentido aquele sentimento de derrota, de que nunca saberão o que acontece a X ou Y personagem. Como se toda a série tivesse morrido, num 'Lost' sem ilha secreta.
Enquanto algumas séries de algum interesse, para quem não gosta de tudo-o-que-os-outros-gostam-de-ver, são canceladas, outras continuam a ter múltiplas temporadas. 'Lost', depois de tanta promoção, chegou ao fim com um epilogo mal explicado e feito às três pancadas; 'Heroes' teve um destino também irregular, depois de ter sido adorado por uns tempos, foi remetido ao esquecimento e cancelado à pressão.

Agora, voltando ao inicio. Ontem, tive a sorte de me indicarem uma óptima série. 'Community' é o seu nome, e promete arrasar com muita sátira e um argumento muito inteligente à mistura. Ainda vai só na primeira temporada, mas promete, felizmente ,com um aleluia, continuar pelo menos por mais uma.
Terminaram também várias outras séries que começaram só em Setembro ou Janeiro (por ser summer season). São o caso de 'Gossip Girl', 'Dexter', 'Skins' e, uma boa surpresa, 'Pretty Little Liars'. Apesar de ser da ABC, canal que não gosto muito por alguns exemplos como' The Secret Life of a American Teenager', esta tem revelado algumas séries como PLL. Séries que considero boas, direccionadas para um público mais amplo, com um argumento eficaz e cheio de suspense. A par desta, Modern Family, que vi num tempo record. Admito, adorei. Tem tudo para resultar: bom cast,bom argumento e excelente formato. É divertida e descontraída, para a família e para um determinado público.


Resumindo, apesar da falta de apoios e apostas que se fazem nas séries, podemos sorrir, pois estão de novo a florescer brilhantes programas. Programas esses que acompanham os acontecimentos da nossa era e que escarniam dos mesmos!



Foi difícil escolher o excerto de vídeo, ontem, consegui devorar 3 episódios seguidos ;)!Para quem gosta de cinema, como imagino que seja o vosso caso para estarem a ler o meu blogue, esqueci-me de vos adiantar que esta série tem tanto humor como referencias a filmes. O primeiro episódio, como podem ver neste excerto, refere-se ao filme 'Brekfast Club'. É uma sátira que faz de um conjunto de pessoas, uma comunidade que nos entretém; Admito que soltei várias gargalhadas, como já não fazia há imenso tempo!

Inception: o poder de ser capaz de acreditar




Alguma vez acordaram com o coração a palpitar de um sonho, ainda atordoados entre o que é e não é real? Se sim, percebem perfeitamente toda a fisionomia de ‘Inception’. O palpitar do coração; a confusão momentânea de saber o que realmente aconteceu; se aconteceu; se está a acontecer; se realmente estamos ali; se estamos acordados; se estamos a sonhar; se, se e mais se…. Tentámos recordar-nos do que aconteceu. Sentimos algo, por vezes, impossível de descrever. Durante dois ou três minutos a nossa mente não pára e perguntámo-nos se realmente estamos lúcidos?! A pulsação começa abrandar. Algumas memórias vêem ao de cima. Lembramo-nos aos poucos – pequenas imagens, acções e elementos do que sucedeu. Pensamos: Parecia-me tão real. Pensamos: Não era. Pensamos: Não passou de um sonho. E assim cai em esquecimento, sem lhe darmos grande importância, até ao seguinte... O filme de Christopher Nolan consegue transmitir tudo o que enumerei e muito mais! Acrescenta e desenvolve ideias. Nada baseado na fantasia, mas, sim, na lógica. Embora nos pareça quase mágico de tão hipnotizante que é, todo aquele jogo de ilusões e ‘viagens’, não o é. O realizador tem o cuidado, como em outros dos seus filmes, em optar por cientificamente explicar os processos - o que lhe confere veracidade e o que torna ‘Inception’ um filme inteligente e penetrante! Penetrante porque nos leva a pensar…bastante. Comparativamente aos outros filmes que vagueiam por aí, e que vi nos últimos anos a ganhar Óscares, este tem o ‘pacote’ todo, a meu ver, e destrona-os completamente. Desde o argumento brilhante e não oco ou cheio de clichés como a maioria, assim como a nível técnico está brilhante, tem ainda um ritmo invejável, sem tempos mortos, sem cenas para ‘encher chouriços’; todos os elementos que compõe o filme têm um propósito, propósito esse de fazer reflectir o público, de o envolver, de o iludir e de o consumir. Chegamos ao intervalo que existe nas sessões de cinema e sentimo-nos como que mentalmente obrigados a trocar impressões, devido ao excesso de ‘análises’ percepcionadas ao longo da primeira parte. Pelo menos eu senti. Sentimos, também, que é ridiculamente simples, o que o torna complicado para as nossas medíocres mentes. Passamos do real para o sonho, do sonho para o real, e vice-versa, e começamos no sonho que acaba também num ou não. Estas últimas semanas tentei fugir, no verdadeiro sentido, a qualquer tipo de spoiler. Consegui nos máximos que é possível, julgo eu, ao homem dos tempos modernos que possuí a poderosa arca do conhecimento – A Internet. Não foi tarefa fácil, admito, mas venci a curiosidade e guardei-me até este dia. Todos falam de grandes teorias, mas penso que, por isso, os responsáveis pelo filme se deveriam sentir realizados, orgulhosos e até babados pelo efeito que a sua obra teve nas pessoas. Quem viu os anteriores filmes de Nolan percebe que ele é um realizador perspicaz, que ilude e cativa o público, como que por ilusionismo, até ao último instante. É também um profissional que não gosta de facilitar ao público o entendimento do que criou, daí a maioria das pessoas dizerem que filmes como, por exemplo, ‘Memento’ e este último, serem filmes que dão o chamado ‘nó no cérebro’. Vejamos, a maioria das pessoas levantou grandes teorias elaboradas por causa do deambular das personagens entre o sonho e a realidade. Esqueceram-se que ainda estávamos na 7ªarte e que o realizador não o esqueceu. E que o filme é feito para ser realmente visto, com olhos de ver como se costuma dizer, para um público perspicaz. Se estivermos com atenção, penso que se percebe perfeitamente quando supostamente as personagens se encontram nas várias dimensões do sonho e quando regressão à realidade. E, sobretudo, quando passam pelo limbo. Entendemos também quando acordam dentro dos sonhos até chegarem à realidade e que o filme principia-se a partir de uma das partes finais do fim, digamos assim. Compreendemos isso quando a personagem de Leonardo Dicaprio, Mr.Cobb, explica como funciona a passagem para o limbo, dizendo que acontece caso alguém morra na terceira dimensão do sonho, sem acordar nas outras, descrevendo, assim, perfeitamente a cena inicial da película – de Saito, o japonês, que aparece completamente alienado e caquéctico sem ter noção da realidade, como se fosse um fantasma perdido entre a realidade e o sonho. Ao longo do filme são assim nos dadas pistas, pistas essas que coleccionamos até ao julgamento final para decidir - se tudo é um sonho ou se tudo foi real. É de ressalvar a actuação de todos os actores no geral, mas especialmente de Joseph Gordon-Levitt, que me desiludiu imenso no filme ‘500 days of summer’( embora tenha gostado do filme), mas que em ‘Inception’ faz um desempenho admirável: com classe, carisma e uma postura digna de um bom actor. Ellen Page não achei que estivesse brilhante, é um facto, mas também não se saiu mal. Leonardo Dicaprio, tal como em Shutter Island, merece uma salva de palmas pela sua performance eloquente – pena que denote uma certa similaridade com alguns dos seus últimos filmes, mas não deixa de ser uma óptimo desempenho. Marion Cotillard é uma actriz muito peculiar, já entrou em vários filmes conhecidos como ‘La vien Rose’, ‘Public Enimies’ e ‘Big Fish’, por isso, embora tenha um papel relativamente pequeno, percebemos o quanto é boa profissional. Voltando ao argumento. Podemos ainda antes de voltar ao seu significado, por em discussão se é falha de raccord ou quer dizer algo. O facto de numas cenas Mr.Cobb aparecer com aliança e noutras não, não consegui ver ao pormenor, mas reparei. que ele tinha pelo menos quando sonhava, acho que era uma forma de mostrar que nos sonhos ele ainda tinha ligação com a Mal, ao passo que na vida real não. O totem do Mr.cobb também é algo que é passível de se pôr em causa. Se quando esta nos sonhos ele roda infinitamente e quando está acordado não, se isso acontece, porque é que quando mostra Leonardo a ir busca-lo ao cofre, este está parado. Pode ser falta de atenção ou já confusão, mas quando o vir de novo o direi. Agora voltando ao significado da história em si. Basicamente, podemos ver por vários prismas ou podemos tentar ver pelo prisma de Nolan. Quando falo do seu prisma, falo baseado nos filmes que vi do mesmo. Christopher Nolan é um realizador de finais abertos. Finais suspense. Finais dúbios. Finais que julgam e põe o público a pensar, a delirar – como se viu com todas as teorias que circulavam pela internet. O cinéfilo deu-nos a ‘papinha’ toda, digamos. Confrontou-nos com tudo, distraiu-nos até ao último minuto, mesmo depois do clímax em que descobrimos que Mr.Cobb teve culpas no cartório. O realizador brincou com as nossas mentes, interagiu com o público de um modo tão profundo que nos fez duvidar da própria realidade e procurar ainda mais teorias da conspiração. O ‘peão’, um simples objecto, é o que no fim nos deixa a dúvida. Muitos ficaram a pensar que por não ter parado de girar, era tudo um sonho. Mas já pensaram que simplesmente Nolan quis que pensassem isso mesmo? A missão que Saito propõe a Mr.Cobb e à sua equipa é algo muito secundário no filme. Existe um verdadeiro significado que se tenta passar. O peão é uma das peças que nos bloqueia o raciocínio, até ao final. Vemos o que queremos ver, digamos, não as possibilidades do que é possível ver. Mesmo a poucos segundos do fim, quando Leo o põe a girar, esse mesmo ‘peão’ começa a dar a impressão de abrandar o ritmo e de ter uma grande instabilidade como se fosse cair; mas isso nunca saberemos porque Nolan acabou mesmo nesse momento a metragem. Deixando-nos apenas com a imagem e pensamento dividido. Pois aposto que a maioria das pessoas selaram logo o seu veredicto e concluíram: o final foi um sonho. À vista desarmada poderia o fim ser apenas uma brincadeira do responsável por ‘Dark Knight’, mas penso que ele vai mais além…O fim do filme actua como uma metáfora bem maior do que todas as teorias: de que a realidade é aquilo que quisermos – pode ser qualquer uma das que achamos com o filme -, pois a realidade é simplesmente aquilo em que realmente acreditas, seja sonho ou ‘real’; é alternativa. Nolan atira-nos isso à cara de uma forma indirecta, faz-nos querer decifrar algo que não é descodificável e faz-nos querer decidir e adoptar algo como o real, fazendo-nos acreditar nisso – de que há uma verdade. Daí não se ver o que acontece ao peão, uma vez que a própria personagem não espera muito para perceber se este cai ou não, preferindo ir ter com os filhos, escolhendo, portanto, a sua própria realidade! E por isso a afirmação tão certa da personagem de Ellen Page, Ariadne, de que ele ficaria bem e iria voltar, pelo menos, para a ‘sua’ realidade.

Revolutionary Thought ?

Do mesmo realizador de American Beauty surge, assim, mais um filme de Sam Mendes intitulado Revolutionary Road. Mais uma vez, o realizador pretende derrubar e expor entraves sociais de uma sociedade dita “perfeita”, mas que, todavia, não passa de uma comunidade cognitivamente desgastada pela ânsia de esconder o que é socialmente indesejável, tal como, tenta demonstrar com as suas anteriores películas, onde foca a artificialidade da chamada sociedade moderna. Revolutionary Road apresenta uma história de um casal vulgar da contemporaneidade, mais ou menos próxima da que vivemos. O jovem par, April (Kate Winslet) e Frank (Leonardo DiCaprio), apelidados como o casal Wheeler ao longo do filme, conhecem-se numa típica festa dos anos 50, nos EUA. O ambiente que os circunda, aquando das suas primeiras trocas de olhares é inundado pela música, álcool e pessoas de potencial interesse que os rodeiam. Algo que é importante ressalvar é o panorama que se vai mostrar como uma espécie de oximoro comparado com o desfecho final e respectivo estádio das personagens e contexto que as envolve. É com este primeiro encontro, e cena, que April e Frank se apaixonam e casam. Tudo acontece numa sequência de episódios. Vários anos passam...Até a noite em que o casal desenvolve uma abrupta cena de sucessivos ataques entre si e percebe que a sua vida não é mais a mesma de à uns anos atrás, e que vivem numa situação de pura aparência e de escassez de verdadeiros sentimentos. Neste permanente cenários de desavenças, os jovens Wheeler’s encaram a dicotomia de “aquilo que desejavam ser” e aquilo “que são” e, ainda, a problemática que os assombra, a mudança que é necessária, mas para a qual não têm forças para a tornar real. Aparte com os seus vários problemas, o casal é admirado por um conjunto de pessoas. Para dar a entender isso o realizador recorre a várias analepses, durante o filme, que evidenciam as impressões do casal ao encontrar a casa e de como mudaram com o passar dos anos. Dando ênfase à antítese temporal que, posteriormente, se verifica. Embora seja perturbado por problemas psicológicos, John Givings ( Michal Shannon- filho de Helen) ,apesar do seu débil estado, ironicamente, parece ser o único a se aperceber de quão putrefacta pode estar a vida do casal ostentado como “casal modelo”,pela vizinhança. No entanto, o que de inicio parece a solução mais fantástica do mundo, arrasta-se até ao estado de loucura da personagem feminina e ao estado de conformidade da personagem masculina, que é desculpada pela súbita gravidez de April. À semelhança de outros filmes de Sam Mendes, torna-se difícil definir o filme com um só género que seja elucidativo do seu conteúdo total. Pois, do inicio ao fim muda completamente o cerne generativo ou, pelo menos, sofre alterações e alternâncias de uso dos mesmos. O jogo de aparências de um mundo actualmente materialista, e que aposta na superficialidade do meio social, é posto a nu pelo roteiro de Justine Haythe, baseado na obra, já antiga, de Richard Yates, lançada em 1961, Revolutionary Road alcançou uma grande polémica, devido ao facto de ser uma crítica à sociedade contemporânea, como já foi referido, anteriormente. Revelando-se, mesmo, atemporal, já que os assuntos abordados destacam aquilo por que a maioria dos mortais passa, e que podemos chamar de síndrome de “a vida é mesmo só isto?!”. É, portanto, algo que poucos conseguem ultrapassar e ter, isto é plena consciência disso, pois, tal como Frank, muitos são os que advogam outras formas de explorar a vida, e nomeadamente, como April, que acaba por sucumbir à dura realidade da vida e “provoca”, por isso, a sua morte. No que toca aos planos de filmagem, é necessário apontar os planos exagerados que o realizador faz da actriz, que incorpora o papel de April. O que não parece involuntário, mesmo que aconteça inconscientemente, dado que Sam Mendes é na vida real casado com Kate Winslet; o destaque visual da personagem torna-se um pouco suspeito. Embora, seja uma peça chave para a história, a personagem Frank - deva-se apontar que é supostamente a principal - aparece de um modo menos salientado do que a personagem April, que é importante apontar como secundária, já que o mesmo é provado com a nomeação de Kate Winslet como personagem secundária feminina pela sua personagem em Revolutionary Road. Curiosamente, é de assinalar o facto de as personagens, e em específico a de Kate Winslet, abusar do consumo excessivo, ao longo do filme, de tabaco, lembrando um traço típico dos filmes “nouvelle vague”, que acompanham assim o stress incessante da personagem e o seu comportamento consumista de paliativos até ao fim da resenha narrativa. O filme, no geral, tem um aspecto interessante. Não posso contudo terminar sem mencionar o seguinte: são Winslet e DiCarpio que mostram um estupendo desenvolvimento como actores desde Titanic. Já se passaram cerca de 11 anos e a conjuntura que os envolve em Revolutionary Road, embora seja completamente distinta e antagónica, eleva-os à mesma a papeis dramáticos, não deixando contudo de os representar de um modo brilhante e, ao mesmo tempo, com uma diferença de substancialidade e empenho muito ímpar do que aconteceu à mais de uma década atrás.

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