quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Revolutionary Thought ?
Do mesmo realizador de American Beauty surge, assim, mais um filme de Sam Mendes intitulado Revolutionary Road. Mais uma vez, o realizador pretende derrubar e expor entraves sociais de uma sociedade dita “perfeita”, mas que, todavia, não passa de uma comunidade cognitivamente desgastada pela ânsia de esconder o que é socialmente indesejável, tal como, tenta demonstrar com as suas anteriores películas, onde foca a artificialidade da chamada sociedade moderna. Revolutionary Road apresenta uma história de um casal vulgar da contemporaneidade, mais ou menos próxima da que vivemos. O jovem par, April (Kate Winslet) e Frank (Leonardo DiCaprio), apelidados como o casal Wheeler ao longo do filme, conhecem-se numa típica festa dos anos 50, nos EUA. O ambiente que os circunda, aquando das suas primeiras trocas de olhares é inundado pela música, álcool e pessoas de potencial interesse que os rodeiam. Algo que é importante ressalvar é o panorama que se vai mostrar como uma espécie de oximoro comparado com o desfecho final e respectivo estádio das personagens e contexto que as envolve. É com este primeiro encontro, e cena, que April e Frank se apaixonam e casam. Tudo acontece numa sequência de episódios. Vários anos passam...Até a noite em que o casal desenvolve uma abrupta cena de sucessivos ataques entre si e percebe que a sua vida não é mais a mesma de à uns anos atrás, e que vivem numa situação de pura aparência e de escassez de verdadeiros sentimentos. Neste permanente cenários de desavenças, os jovens Wheeler’s encaram a dicotomia de “aquilo que desejavam ser” e aquilo “que são” e, ainda, a problemática que os assombra, a mudança que é necessária, mas para a qual não têm forças para a tornar real. Aparte com os seus vários problemas, o casal é admirado por um conjunto de pessoas. Para dar a entender isso o realizador recorre a várias analepses, durante o filme, que evidenciam as impressões do casal ao encontrar a casa e de como mudaram com o passar dos anos. Dando ênfase à antítese temporal que, posteriormente, se verifica. Embora seja perturbado por problemas psicológicos, John Givings ( Michal Shannon- filho de Helen) ,apesar do seu débil estado, ironicamente, parece ser o único a se aperceber de quão putrefacta pode estar a vida do casal ostentado como “casal modelo”,pela vizinhança. No entanto, o que de inicio parece a solução mais fantástica do mundo, arrasta-se até ao estado de loucura da personagem feminina e ao estado de conformidade da personagem masculina, que é desculpada pela súbita gravidez de April. À semelhança de outros filmes de Sam Mendes, torna-se difícil definir o filme com um só género que seja elucidativo do seu conteúdo total. Pois, do inicio ao fim muda completamente o cerne generativo ou, pelo menos, sofre alterações e alternâncias de uso dos mesmos. O jogo de aparências de um mundo actualmente materialista, e que aposta na superficialidade do meio social, é posto a nu pelo roteiro de Justine Haythe, baseado na obra, já antiga, de Richard Yates, lançada em 1961, Revolutionary Road alcançou uma grande polémica, devido ao facto de ser uma crítica à sociedade contemporânea, como já foi referido, anteriormente. Revelando-se, mesmo, atemporal, já que os assuntos abordados destacam aquilo por que a maioria dos mortais passa, e que podemos chamar de síndrome de “a vida é mesmo só isto?!”. É, portanto, algo que poucos conseguem ultrapassar e ter, isto é plena consciência disso, pois, tal como Frank, muitos são os que advogam outras formas de explorar a vida, e nomeadamente, como April, que acaba por sucumbir à dura realidade da vida e “provoca”, por isso, a sua morte. No que toca aos planos de filmagem, é necessário apontar os planos exagerados que o realizador faz da actriz, que incorpora o papel de April. O que não parece involuntário, mesmo que aconteça inconscientemente, dado que Sam Mendes é na vida real casado com Kate Winslet; o destaque visual da personagem torna-se um pouco suspeito. Embora, seja uma peça chave para a história, a personagem Frank - deva-se apontar que é supostamente a principal - aparece de um modo menos salientado do que a personagem April, que é importante apontar como secundária, já que o mesmo é provado com a nomeação de Kate Winslet como personagem secundária feminina pela sua personagem em Revolutionary Road. Curiosamente, é de assinalar o facto de as personagens, e em específico a de Kate Winslet, abusar do consumo excessivo, ao longo do filme, de tabaco, lembrando um traço típico dos filmes “nouvelle vague”, que acompanham assim o stress incessante da personagem e o seu comportamento consumista de paliativos até ao fim da resenha narrativa. O filme, no geral, tem um aspecto interessante. Não posso contudo terminar sem mencionar o seguinte: são Winslet e DiCarpio que mostram um estupendo desenvolvimento como actores desde Titanic. Já se passaram cerca de 11 anos e a conjuntura que os envolve em Revolutionary Road, embora seja completamente distinta e antagónica, eleva-os à mesma a papeis dramáticos, não deixando contudo de os representar de um modo brilhante e, ao mesmo tempo, com uma diferença de substancialidade e empenho muito ímpar do que aconteceu à mais de uma década atrás.
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