quinta-feira, 19 de agosto de 2010
"Tim no País das Maravilhas"
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Era uma vez um espantoso realizador que primava pela originalidade e pela genialidade de histórias e actores escolhidos para os seus filmes. Esse realizador era Tim Burton. No entanto, desde “Sweeeny Todd: The Demon Barber of Fleet Street” não tem cumprido com estes requisitos e o resto já se sabe… A verdade é que com o novo filme “Alice in Wonderland” todos os fãs, e mesmo público em geral, esperavam o regresso de uma nova película de culto, como foram em tempos “Big Fish”, “Sleepy Hollow” e o extraordinário “Edward Scissorhands”. Este último confesso que é um dos meus favoritos, se não mesmo o filme preferido, e o primeiro em que vi o excelente desempenho do actor Johnny Depp. Mas continuando no país das maravilhas, o realizador gótico falhou em alguns detalhes com “Alice”.
"Tim no País das maravilhas". Montagem: Andreia Mandim
Deixou um pouco aquém das expectativas o efeito da tecnologia 3D empregue, que potencialmente seria uma mais-valia para os cenários. Não o foi. Mas em vez disso distraiu e cansou os olhos do público, pelo menos no meu entender. O reforço da imagem não se verificou, sendo apenas explicita a tecnologia em poucas cenas - como a final em que aparece a borboleta. O vírus Avatar não tem sucesso em todos os formatos, pois revelou-se desnecessário neste caso. Contudo, não se pode deixar de frisar que a marca do realizador estava lá. O estilo das personagens e deixas das mesmas, na entrada e saída de cenários, fizeram lembrar o mundo de fantasia inerente aos seus antigos filmes. A multiplicidade de cores e o estilo fantástico e sombrio, ao mesmo tempo, esteve presente ao longo da metragem tornando-a hipnotizante.
Mas, mesmo o mais belo tem espinhos, e tal como as rosas “Alice in Wonderland” tem algumas falhas evidentes. Em primeiro lugar, numa das cenas principais, a actriz em criança diz ao seu pai que teve o mesmo sonho das outras noites, mas, mesmo assim, conta-o como se tivesse sido a primeira vez que o teve. Aí se verifica a primeira falha. O argumentista não soube passar do papel para a imagem aquilo que Alice sonhou e errou ao tentar passá-lo através da palavra. Também a actriz que dá corpo a Alice em criança faz um papel muito pouco admirável, há pouca espontaneidade e naturalidade no seu discurso; podiam ter escolhido bem melhor. Mas não são só erros de oratória, mas ainda de raccord que quebram a perfeição da história. Na cena em que Alice encolhe e cresce, sucessivamente, quando esta finalmente encolhe de novo, também a chave diminui de tamanho. Ao contrário do que acontece antes nas cenas anteriores em que ela mantém o tamanho original, e antagónicamente ao filme da Disney em que Alice tem de arrastar a chave gigante até à porta, pois não teve a sorte de que esta diminuísse de tamanho. Apesar de ser um filme de fantasia e, por isso, se julgar que tudo é possível, estes erros apontados são mesmo resultado de descuido. Outro descuido foi deixar Anne Hathaway fazer parte do cast, pois, embora tenha recusado o papel de Alice por argumentar estar colada a papéis semelhantes, a actriz esqueceu-se que o facto de se ser boa actriz mede-se por isso mesmo, pela capacidade de versatilidade e de criação de personagens. Por isso aqui vai um conselho: Se isso é motivo para recusar um bom papel, é melhor continuar mesmo a fazer anedotas como o “Diário da Princesa”.
Mia Wasikowska interpreta Alice.Foto: 3.bp.blogspot.com interpreta Alice.Foto: 3.bp.blogspot.com
Embora tenha apresentado vários pontos negativos, também existem coisas boas no filme. E é aí que Tim Burton pontua perante o público, e, a meu ver, faz valer os 6,40€ do bilhete. A história tradicional de Alice é assim transformada numa história intemporal, adaptada ao real e quase ao moderno. É uma verdadeira metáfora ao facto de termos poder para decidir as nossas vidas e de que temos sempre a “opção”. Abandonar a fantasia e fazer parte de algo muito maior - da vida tal como ela é. De ressalvar é também o papel de Johnny Depp e de Helena Bonham Carter . Mais uma vez o seu companheiro (pois Helena Carter e Tim são casados) acertou na combinação. O Chapeleiro Louco é quase tão importante como Alice para a história, assim como a Rainha de Copas.
No final de conta os criadores desta Alice gótica até acertaram. Passando assim a mensagem de que mesmo crescendo é possível cultivar alguma magia dentro de nós e não é necessário criar um país das maravilhas para sermos felizes!
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