quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Palermo Shooting: a vida e a morte como uma só
Realizado por Wim Wenders e protagonizado por Campino, Dennis Hopper, Giovanna Mezzogiorno, e Lou Reed, “Palermo Shooting” foi a metragem que se destacou no Fantasporto, tanto devido à presença do seu realizador na estreia nacional, como pelo facto de este ter discursado antes da passagem do filme, sem que o público esperasse tal comparência. A história retrata, um pouco, o vazio da vida de alguém, que, potencialmente, parece ter tudo. No entanto, sente que não possui nada, além de si mesmo e dos seus receios. Finn é o protagonista, caracterizando-se pela sua profissão fervorosa de fotógrafo, tanto de estéticas como de moda, sendo que tem tudo o que possivelmente muitos ostentam alcançar. Contudo, a personagem parte da Alemanha para uma cidade chamada Palermo e é lá que se desenrola toda a acção. Deparamo-nos com um debate psicológico gradual que confunde o público e, ao mesmo tempo, leva-o a questionar-se a si mesmo. Desenvolve-se, assim, um conjunto de episódios, curiosamente perturbantes que suscitam a discussão entre a dicotomia vida/morte. Isto leva a leves mechas de insinuações de que Finn está a ser perseguido por alguém ou algo mais concreto que simbolize a morte. A personagem enquanto fotógrafo é acompanhada ao longo da história pela própria “fotografia”, pelo seu significado que, no fim, revela-se inerente ao conceito vida/morte, evidenciado por Wenders. Finn acaba por encontrar alguém, por quem se apaixona e através da qual percebe que, tal como o negativo da película fotográfica, não existe apenas a vida e a morte, mas sim a morte dentro da vida. A fotografia é o alvo que o leva a perceber isso, pois capta a “figura” da morte. Relativamente à banda sonora, esta é muito importante no filme, pois vários episódios passam-se aliados ao colocar dos auscultadores e ao seu tirar, nomeadamente sempre que o “mensageiro” o tenta matar, o protagonista encontra-se a ouvir música e quando a pára é como se saísse de uma neurose e nada se tivesse passado. O oscilar da música marca, assim, uma alternância entre a proximidade do sombrio ou considerado como tal e a vida e o que é considerado real. Embora o filme se apresente bastante subjectivo e abstraccionista, penso que seja agradável frisar que materializa uma excelente obra de introspecção pessoal sobre o que nos rodeia e somos capazes de acreditar. No entanto, não posso deixar de afirmar que fiquei surpreendida, no que diz respeito ao enredo do filme, pois é típico deste realizador tornar as suas películas um pouco monótonas, por conter argumentos extensos ou bastante “parados”. Tal facto não se verificou em “Palermo Shooting”, revelando-se um admirável produto cinematográfico. Contudo, alguns pontos negativos a apontar verificam-se em haver algumas cenas demasiado confusas e o desenvolvimento da posição ser um pouco atrapalhada da personagem principal. Isto leva a uma certa desordem das cenas, o que potencializa alguma não correspondência do espectador. A nível mais técnico, os planos de filmagens devem ser destacados, assim como a técnica fotográfica, salientando as excelentes panorâmicas e alguns travellings que dão a conhecer o contexto do filme. Deste modo, é possível perceber que “Palermo Shotting” engloba um conjunto de elementos que remetem para aquilo que todos tememos, que não haja nada mais para além da morte. 06/03/2009
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